Meus amados filhos,
Eu sei, não está sendo fácil, me dói sentir esse vírus se alastrar por todo meu corpo, contaminando e adoecendo os meus próprios filhos humanos sobre meus braços. Acreditem! Enquanto eu respirar, ainda que seja com dificuldades, lutarei incansavelmente pela vida, sou Mãe, sou Terra, sou Gaia, o Amor incondicional por todas as criaturas que em mim habitam.
Há tempos venho apresentando sinais da uma saúde debilitada, sim; estou fraca, febril e triste, suportando e lutando contra as doenças em mim instaladas pelas ações desequilibradas dos meus próprios filhos, carreguei a humanidade em minha gestação por milhões de anos, me alimentei das estrelas, dos ventos, tempestades, céus e mares para nutri-los das mais puras energias.
Vocês são o resultado da evolução das espécies, mas agem como parasitas da natureza, estão no topo da cadeia alimentar, mas não entendem que todos somos a base, são as criaturas mais inteligentes da superfície, mas ignoram preservar as próprias fontes de vida, possuem o livre árbitro, mas não se sentem responsáveis pelos danos causados, mancham o ar que respiramos, arrancam as minhas raízes, me tacam fogo, devoram tudo, depois viram as costas e seguem a vida moderna, individualista e gananciosa, acreditando em um progresso intelectual e material sem crescimento moral e espiritual.
Em algum momento esta conta não iria fechar, o filho abandonou a própria Mãe morando na mesma casa, foi preciso PARAR o mundo para valorizar a VIDA, não há ricos e pobres, pretos ou brancos, ocidente ou oriente, bandeira vermelha ou amarela, esquerda ou direta, crianças, adultos ou idosos, religiosos ou ateus, SOMOS TODOS UM, a sua dor é a minha dor, a nossa recuperação dependerá da saúde consciencial coletiva.
Tenho esperança na cura, já posso sentir os primeiros socorros agindo sobre mim, tenho esperança no amor, tenho esperança na evolução da humanidade segurando a mão da natureza, o filho pródigo precisa retornar os olhos para o próprio lar, continuarei aguardando, continuarei resistindo, continuarei sendo a Mãe que tudo dá para os filhos.
O homem “moderno” um dia subjugou o conhecimento milenar de milhares de povos que aqui viviam em harmonia com a natureza, considerando-os até de raças inferiores, mas peço por favor filhos modernos, reflitam este provérbio dos meus filhos indígenas. “O que fere a terra fere também os filhos da terra. O homem não tece a teia da vida; é antes um de seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio.’’ *
Com amor e compaixão,
Sua Mãe Terra.
*Trecho retirado da Carta do Cacique Seattle em 1854 ao governo dos EUA