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De velhaca

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Moro condena Lula. Temer corre risco de deixar temporariamente a Presidência. Pois bem, Lula, Temer, Janot, Dilma, Aécio e outras figuras bem distantes do nosso abençoado e ensolarado Mato Grosso povoam a mente crítica de muitos nesta nossa terra. Vira e mexe esses figurões são alvos de artigos inflamados, de citações raivosas nas mídias sociais e predominam nas rodinhas de boteco.

Numa visão ampliada é bom que Mato Grosso debata as grandes e graves questões na esfera política nacional. Afinal, somos um ente federativo, que mesmo citado por muitos enquanto periférico, respondemos pela maior produção de proteínas vegetais e animais no país. Porém, no contexto das correções de rumo que o Brasil precisa não basta enxergar apenas do lado de fora do umbral da porta da casa: é imprescindível voltar o olhar para todos os cantos de seu interior.

A casa figurada é Mato Grosso, e seus cantos, os municípios. Acontece que o furor crítico e o fervor cívico ora contra Lula ora anti-Temer ou a favor de um e outro se esvaziam por completo quando se trata da dor de barriga mato-grossense e, mais ainda, sobre fatos que acontecem à luz do dia na cidade, no bairro e na rua onde moramos.

A superficialidade cívica tal qual é demonstrada tem a capacidade de fazer barulho, mas ao invés de ajudar a resolver situações análogas por aqui, cria blindagem para elas. Trace comparativo entre os textos que empurram Lula ao fogaréu onde há choro e ranger de dentes, com outros sobre a Grampolândia maquiavelicamente reduzida a arapongagens de coronéis e cabos que não falam nem representam a corporação que tem Tiradentes por patrono. Trace mais, mesmo que guardando as devidas proporções, o escândalo da Petrobras com a Seduc, ou na farta distribuição de emendas por Temer (pra se livrar da guilhotina) e a imoral relação da Faespe com o TCE, Assembleia Legislativa, governo de Pedro Taques e prefeituras. Continue traçando e verá que enquanto impera o barulho lá, aqui reina o silêncio sepulcral.

O silêncio regionalizado não é motivado pelo medo de retaliação. Ele nasce da necessidade que o indivíduo tem de se manter sob a capa protetora do figurão do poder, que lhe assegura empregos para parentes ou lhe abre as portas para a prestação de serviços ou venda de produtos. Tudo isso com base na relação ortodoxa, claro.

Não é preciso ser engenheiro pra se saber que não se começa a casa pelo telhado. Os interesses que resultaram nos escândalos em Brasília se repetem aqui – com outros rótulos e montantes. Isso deixa claro que a falta de indignação regionalizada é perigosa arma a serviço da impunidade das figuras menores da vida pública. Não sei se o pior para o Brasil é o que fazem lá ou se a boca fechada no berço de Rondon, que nesse caso também pode ser rotulado de terra da velhaca conivência.

Eduardo Gomes de Andrade é jornalista em Cuiabá
[email protected]

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