Cuiabá teve três momentos marcantes em sua quase tricentenária história que começou em 8 de abril de 1719. Primeiro com o almirante Augusto João Manuel Leverger – o Barão de Melgaço -, depois com Filinto Müller e mais recentemente com Blairo Maggi e Silval Barbosa.
Leverger foi um mercenário francês que trocou os sete mares pela nossa capital. Escritor, historiador, geógrafo e político, governou Mato Grosso em algumas ocasiões. Mestre das armas, quando da guerra com o Paraguai (1864/70) desviou o curso do rio Cuiabá em Barão de Melgaço e construiu uma fortificação num elevado para bombardear a armada paraguaia que planejava invadir o solo cuiabano. Solano López desistiu do ataque ao saber que o Lobo do Mar estava entrincheirado.
Filinto era uma das vozes ouvidas por Getúlio Vargas e ele soube usá-la muito bem. No final dos anos 1930 iniciou-se um movimento pra transferir a capital de Cuiabá para Campo Grande. O principal argumento era a falta de infraestrutura cuiabana.
A maneira de derrubar o movimento e ao mesmo tempo de melhorar a situação urbana era investir em Cuiabá. Em 6 de agosto de 1941 Filinto trouxe Getúlio a Cuiabá, onde o presidente foi recebido por seu irmão e interventor Júlio Müller, para inaugurar importantes obras por ele costuradas. O fantasma da transferência foi exorcizado.
O governador Blairo teve a ousadia de convencer Lula a incluir Cuiabá entre as sedes da Copa de 2014. O evento dotaria a cidade de uma arena multiuso e a divulgaria. Mas, iria muito além, na medida em que a capital e Várzea Grande seriam contempladas com o maior pacote de obras urbanas mato-grossenses. Silval Barbosa, sucessor de Blairo, levou adiante um projeto ambicioso, audacioso e revolucionário para construir trincheiras, viadutos, VLT, modernizar o aeroporto e etc.
Um milenar provérbio chinês diz que quando o dedo aponta a lua o medíocre olha para a mão. Nem todas as obras da Copa foram concluídas e algumas apresentaram problemas que devem ser sanados pelas construtoras que as executaram; a mediocridade está de olho nelas.
Na terça-feira, 21 deste mês conversei com o governador Pedro Taques sobre seu pedido a Temer pra que o BNDES alongue a dívida mato-grossense de R$ 2,8 bilhões investidos nas obras da Copa. Otimista, Taques vê viabilidade em sua proposta e aguarda uma resolução do Conselho Monetário Nacional pra sacramentação de seu chororô.
Esse assunto foi minha primeira conversa com o governador. Gostei do que ouvi por entender que história se faz com homens públicos com seus acertos e erros; Taques não está acima da fragilidade humana. Espero que ele consiga o alongamento, que retome as obras e que compreenda que a magnitude do legado da Copa não abre espaço pra caça às bruxas, satanização de uns e endeusamento de outros nesta terra onde perfeição é utopia.
Eduardo Gomes é jornalista
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