Pessoalmente conheço tanto de Gilmar Mendes quanto chinês de samba. Em três ou quatro ocasiões estive com o ministro mato-grossense. Creio que o ritmo musical dançante mais popular do Brasil não seja figurinha carimbada entre um bilhão e quatrocentos milhões de pares de olhos repuxados na terra dos mandarins.
Mesmo distante de Gilmar, o fiz protagonista de um capítulo do meu livro “Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir” (2015). Trata-se de um bem-humorado episódio ambientado no ponto equidistante de Diamantino – terra do ministro – e São José do Rio Claro, no qual lhe dispenso o tratamento de Caboclo, por seu jeitão capiau, que nem mesmo o status de membro do Supremo, presidente do TSE e de renomado constitucionalista consegue apagar da sua formação de menino da roça criado no Chapadão do Parecis na época em que aquela região era a única rota rodoviária de Mato Grosso a Rondônia, no trajeto que segue as pegadas do maior mato-grossense de todos os tempos, o Marechal Rondon, quando da saga da construção das linhas telegráficas do Rio a Porto Velho. Sobre chinês, nada a acrescentar.
No plano nacional, Gilmar é visto enquanto polêmico. A viuvez canhota teima em queimá-lo. A direita velhaca e oportunista ora bate ora assopra de acordo com aquilo que mais lhe interessa. Em Mato Grosso, não junto ao povo, mas entre (de)formadores de opinião, figuras aleitadas pelo poder independentemente de quem o exerça, suspeitos políticos e sindicalistas crônicos, e até mesmo algumas vozes dignas fazem coro para jogarem o capiau de Diamantino – ou Caboclo, tal qual o defino no livro – na vala mais fétida que se possa imaginar. Ao longo da vida, aprendi pouca coisa e uma delas é que o ciúme e a inveja quando coabitam a mente do frustrado se fundem e se transformam em perigosa arma verbal que não respeita valores, subestima inteligência, fere a alma, dilacera corações, avança sobre a dignidade humana…
A primeira semana de julho foi amarga em Mato Grosso com o desdobramento de escândalos e mais escândalos que já não escandalizam mais a ninguém, tamanha a desfaçatez de seus protagonistas. Mesmo assim, esse primeiro quarto do mês em curso reservou pra mim uma luz na fresta da vida: a especulação sobre a possibilidade de que Gilmar deixe o Judiciário e dispute o Senado por nossa terra. Claro que o capiau de bobo não tem nem a cara e jogou água na fervura (acredito até que ele o fez apenas pelas regras do jogo institucional).
Antes que alguém me pergunte por que vejo a perspectiva da candidatura de Gilmar pelo prisma da luz na fresta da vida digo que embora não o conhecendo, bem conheço seu discreto, porém decisivo dedo sobre algumas conquistas de nossa terra e reforço meu posicionamento com a crença de que ele, capiau ou não, no Senado – tribuna polêmica e para polêmicos – seria exatamente a voz com ressonância nacional que Mato Grosso precisa em Brasília. Boa sorte, Caboclo!
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista
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