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De figura menores

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Maior espetáculo da terra não é título fácil e mais difícil ainda é mantê-lo décadas após décadas neste planeta competitivo onde a duras penas o Brasil consegue poucas conquistas no comparativo com as nações poderosas. Independentemente das fraquezas nacionais, o carnaval do Rio é cadeira cativa na magia de proporcionar uma festa que reúne beleza, ginga, arte, cultura, história e o melhor de tudo: a boa malandragem carioca.

Se o samba tem alma, essa é o carnaval da Marquês de Sapucaí onde acontece a grande kizomba que mistura mulheres de beleza estonteante com o melhor da musicalidade afro-brasileira e que leva ao delírio as arquibancadas e os espectadores mundo afora.

A passarela mágica do samba que Brizola idealizou pelas mãos de Niemeyer é um enclave livre e multirracial que não se deixa tutelar pelos capitães da indústria, os barões da soja, os marajás dos poderes, nem pelos coronéis da política. Ali, os puxadores de samba, os carnavalescos, os destaques, as comunidades que sambam no chão e enfim o universo das escolas canta com o coração criando e recriando mundos ao seu modo.
Foi naquele palco em 1990 que a Estácio de Sá cantou e encantou com o samba “Langsdorff, delírio na Sapucaí”. Também ali, em 2013 a Mangueira entoou “Cuiabá, um paraíso no centro da América”. Ainda na mesma passarela, em 2016 a Unidos da Tijuca arrebentou com “Semeando Sorriso a Tijuca festeja o solo sagrado”. Será ali, neste ano que começa com a perda de Teori Zavascki que a Imperatriz Leopoldinense cantará ao mundo “Xingu, o clamor que vem da floresta”.

O samba da Imperatriz despertou a ira de entidades patronais rurais mato-grossenses que não economizam críticas à sua letra buscando por todos os meios satanizá-la, bem como ao personagem escolhido para seu maior destaque, o septuagenário cacique Raoni Metuktire, líder xinguano na reserva Capoto-Jarina.
Defendo o samba da Imperatriz e não vejo críticas de sua letra ao produtor rural, mas ainda que a escola questionasse o homem que planta eu defenderia seu direito de expressão. Entendo que as entidades insossas que representam o agronegócio tentam criar um fantasioso cenário de agressão ao campo, para justificar suas existências.
O brasileiro, sambista ou não, respeita o produtor rural e o tem no mais alto conceito. Na longa trajetória do samba antes e depois da Sapucaí nunca presenciei desfile agressivo ao abnegado filho de Deus que arranca da terra o nosso sustento.

Não deixem que as falsas bandeiras das entidades mordômicas e controladas por grupinhos que se eternizam no poder lancem mais uma frente de luta de classes no Brasil. Quem produz, quer seja grãos ou samba, está muito acima das picuinhas oportunistas. Sambemos, pois, no Rio; cultivemos o solo aqui. Olhemos para frente e deixemos para trás as figuras menores.

Eduardo Gomes é jornalista – [email protected]
 

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