Desde a divisão territorial em 1977, Senado é terra infértil pra mato-grossenses. Foi assim com Gastão Müller, Vicente Vuolo, Benedito Canellas, Louremberg Rocha, Júlio Campos, Carlos Bezerra, Serys Slhessarenko, Gilberto Goellner, Antero Paes de Barros e Jayme Campos, que não se reelegeram, perderam a eleição para outros cargos imediatamente após cumprir seus mandatos ou se afastaram da vida pública. Além deles, Roberto Campos trocou Mato Grosso pelo Rio. Somente três senadores conseguiram a proeza de não ser engolidos: Márcio Lacerda, que foi vice na chapa ao governo encabeçada por Dante de Oliveira; Jonas Pinheiro, que se reelegeu em 2002 graças ao esquema montado para moer Dante de Oliveira; e Pedro Taques, que chegou ao governo não por seu desempenho parlamentar, mas por sinalizar perspectiva de mudança.
A manchete no momento é a possível troca do PR pelo PMDB, por parte de Blairo Maggi. Vejo possibilidade de que isso possa acontecer. Enxergo-a como manobra de amplitude maior.
Nos meios empresariais costuma-se dizer que se Blairo saltar de uma janela é porque embaixo tem dinheiro; prova disso é o tamanho e o faturamento de seu grupo empresarial. Nas esferas políticas ninguém duvida de sua capacidade de articulação; vale lembrar que em 2010, depois de sete anos no governo e sofrendo os desgastes naturais do duplo mandato contínuo, saiu consagrado das urnas e se tornou o primeiro e único político mato-grossense a conquistar (mais de) um milhão de votos em uma só eleição. De quebra, naquele pleito não se assombrou com o tabu de que em Mato Grosso governador não se elege senador imediatamente após deixar o Paiaguás.
É esse o Blairo que poderá botar o chamegão numa ficha do partido colonialista regido com base no componente do fraternocaciquismo, que em Mato Grosso tem nome, sobrenome e data de validade: Carlos, Gomes Bezerra, vitalício.
Caso queira, Blairo entra sem bater e com tapete vermelho estendido aos seus pés. Com a têmpera política moldada pela paciência do tempo e seu jeito de ser político 25 horas por dia sem interesse em demonstrar por um segundo sequer essa condição incorporada ao seu DNA, o senador sabe o que melhor lhe convém.
Mesmo em caso de filiação, no PMDB em Mato Grosso a palavra continuará sendo de Bezerra, mas seu principal nome para as urnas passará a ser o de Blairo. Entendo que é tempo de semear ideias e programas que levem em conta a vocação econômica desta abençoada e ensolarada terra. Espero que com ou sem o PMDB Blairo vá pras ruas, pro embate com a participação de anjos, demônios e da turma do limbo num faroeste eleitoral muito além dos rótulos de mocinhos e bandidos, com gosto de povo e cheiro de democracia.
Eduardo Gomes de Andrade é jornalista em Mato Grosso
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