A internet é realmente um instrumento fantástico. Outro dia, enquanto realizava uma pesquisa na web deparei-me com uma entrevista dada pelo então candidato ao governo Blairo Maggi, o qual tecia duras críticas ao governador da época Dante de Oliveira. Blairo denunciava o desperdício de recursos públicos com a construção da ponte Sérgio Motta, que segundo ele teria custado R$ 11 milhões de reais (na verdade foram R$ 15 milhões). Prosseguia, afirmando que faria a obra com R$ 5 milhões de reais, sendo que o valor gasto a mais poderia servir para a construção de outras pontes, ou ainda, para a realização de obras de maior prioridade.
Decorrido mais de sete anos, hoje governador reeleito no término de seu segundo mandato, Blairo Maggi, ao que parece, não é mais o mesmo. Imagina o que diria o saudoso ex-governador Dante de Oliveira ao saber que o atual Governo do Estado se propôs recentemente a gastar, somente com projetos e consultorias mais de R$ 20 milhões de reais; e pior, sem licitação pública.
No mesmo sentido, como reagiria Dante ao tomar conhecimento dos milhares de reais gastos pelo Governo estadual com sistemas de informática, como por exemplo, o software de cadastro de bens que custou aos cofres públicos a bagatela de R$ 11,5 milhões de reais. Que por sinal, conforme divulgado por alguns veículos de comunicação foi fornecido por uma empresa de informática de Brasília, suspeita de participar do esquema de corrupção da administração do governador do Distrito Federal José Roberto Arruda.
O que diria Dante, conhecedor que era das carências e das necessidades do povo mato-grossense, sobretudo na área de saúde, educação e segurança, ao assistir o atual Governo enterrar aproximadamente R$ 650 milhões de reais, na demolição do atual estádio do verdão, e na construção de um novo. Isso porque o atual verdão, na condição que está, vale por baixo mais de R$ 200 milhões de reais, e o novo custará aos cofres públicos algo próximo a R$ 450 milhões de reais.
Veja bem, não queremos aqui vender a falsa idéia de que o Governo anterior era perfeito, sem falhas, sem problemas. Apesar dos avanços obtidos, tais como: o equilíbrio das contas públicas, a chegada da Ferronorte a Mato Grosso (hoje encontra-se parada), a vinda do gasoduto (agora sem gás), a construção da termoelétrica em Cuiabá (atualmente em vias de desativação), a conclusão da usina de Manso e outros. A administração anterior teve sim vários problemas, alguns sérios, diga-se de passagem.
Muito menos, diferentemente do que propôs o Governador Blairo Maggi, não pretendemos fazer comparações entre o Governo anterior, e o atual, mesmo porque, quase tudo o que foi feito por esta gestão, só foi possível, principalmente, graças aos recursos do Fethab, no passado tão combatido e criticado pelos atuais inquilinos do Palácio Paiaguás.
Entretanto, na qualidade de eleitores que somos nos sentimos no direito e no dever de cobrar dos nossos governantes, um mínimo de coerência entre o discurso adotado em época de eleição e os atos praticados no exercício do poder. Mesmo porque, nada é mais pernicioso ao exercício da democracia do que o malfadado fenômeno político da memória curta, seja por parte de quem vota, seja por parte de quem é votado.
Auro Guilherme de Matos Ulysséa -advogado e especialista em Direito Público