No coração da cidade de Sinop, porta de entrada da Amazônia das águas, nasce um rio que foi batizado de Córrego Marlene. Córrego por ser bem menor que a imensidão das águas que irrigam esta região. Marlene, possivelmente seja mais uma homenagem do lendário Ênio Pipino (o “plantador” de cidades) ao gênero feminino.
Macacos-prego, araras, buritis, muricis, jambos e imbaúbas (do tupi ãba´ib, que significa árvore oca, segundo o bom e imprescindível Aurélio) compõem um pouco da diversidade de fauna e flora que acompanham o correr das águas deste, no dizer singelo do caipira, “córguin”. Do Marlene, os acarás e lambaris dão alegria aos pequenos pescadores.
Apesar dessa participação no cotidiano e cultura local, o Córrego Marlene vem sofrendo, ano a ano, um derramamento de lixo urbano! Lixo, bem verdade, que é produzido por todos nós. Principalmente por aqueles que não enxergam que a natureza compreende um processo cíclico, onde tudo que jogamos fora ou deixamos para trás sempre volta em forma de dádiva ou tragédia.
É um lixo que nasce da “cultura humana” de jogar dejetos líquidos e sólidos nas ruas, calçadas ou em qualquer lugar! Estes correm com a água das chuvas para as bocas de lobo que, em sua maioria, estão sem grades para contenção dos materiais sólidos. Percorrem os canais de drenagem pluvial e, simultaneamente passam ocultos pelos canais “responsáveis” do poder público quando finalmente, abarrotados de entulhos (garrafas, pneus, isopor, produtos químicos e todo resto do consumo da cidade), chegam à nascente do córrego. Isso mesmo! Vão direto à nascente, sem nenhum tipo de tratamento ou barreiras de contenção.
Claro que somente a poluição de nosso “córguin” não é o único fator que está provocando o aquecimento global e influenciando a maré de ondas gigantes, furacões e ciclones que estão ocorrendo mundo afora com uma freqüência jamais verificada.
Mesmo assim, o Córrego Marlene e os habitantes de seu nicho – entre eles, aqueles que são considerados os “intelectuais da floresta”, os macacos-prego – pedem socorro. Mas, como nem córregos e nem macacos falam em nossa língua, pedimos socorro por eles e pelos mais de seis bilhões de habitantes humanos desta aldeia.
João Batista Lopes da Silva
Professor na Universidade do Estado de Mato Grosso
Membro da ECODAM – Associação de Ecologia e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Mato-grossense