A quebradeira do sistema financeiro americano teve reflexos negativos em todo o mundo e se espalhou como fogo em palha seca por todos os países, por mais remotos que fossem. No Brasil, atingiu em cheio o nosso agronegócio, notadamente em Mato Grosso, estado responsável por cerca de mais de 1/3 da produção agrícola brasileira.
A elevada e repentina cotação do Dólar com relação ao Real e a conseqüente desvalorização das commodities agrícolas, mais o estancamento do crédito criaram um clima de incerteza e de intranqüilidade entre os produtores rurais.
Isso justamente quando os nossos produtores rurais, para iniciar o plantio da próxima safra, já efetuaram compras, já fizeram gastos e já assumiram compromissos com os vendedores de insumos e com os compradores de sua produção.
A falta de crédito, num momento desses, poderá provocar um colapso nos negócios rurais, que contaminará as empresas processadoras e exportadoras de commodities agrícolas, fato que provocará aumento do preço dos alimentos que, conseqüentemente, afetará a população consumidora, provocando queda no nível de emprego, dificuldades na manutenção de mercados compradores internacionais e desequilíbrio na economia brasileira. Além dessas inconveniências financeiras, não podemos descartar a possibilidade de que sobrevenham problemas climáticos ou que haja incidência de pragas e doenças.
Portanto, a nova safra será de altíssimo risco, a ponto de os produtores não terem sequer noção de quanto poderá ser a sua margem de lucro na atividade, ou se terão prejuízo. Os custos de produção estão muito mais altos agora do que foram em qualquer safra anterior.
O Governo Federal, desde o início dessa crise, tem implementado uma série de medidas de precaução, principalmente assegurando mais recursos para o crédito rural, os quais, entretanto, não chegaram ainda às mãos dos produtores.
Por sua vez, os agentes financeiros, para emprestar esse dinheiro aos produtores rurais, querem se acautelar com garantias de que a atual safra vá dar lucro para que haja condições de que esses empréstimos sejam pagos.
Assim sendo, é de suma importância que, neste momento de crise financeira, o Governo Federal se municie de meios que possam garantir a renda dos produtores rurais, com operações como de equalização e de sustentação de preços dos produtos agrícolas, como o Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural – Pepro e as operações de AGF e EGF.
Para isso, é conveniente que o preço mínimo dos produtos agrícolas seja revisto com base nos custos atuais de produção e é imprescindível que o Congresso Nacional, ao apreciar o Orçamento Geral da União para 2009, suplemente os recursos orçamentários destinados à sustentação dos preços agrícolas para o produtor e a sua renda. A proposta de Orçamento encaminhada pelo Governo Federal ao Congresso Nacional não contempla recursos suficientes para custear essas operações, dentro das novas necessidades.
Essas providências devem ser tomadas com a máxima urgência para assegurar que o Orçamento Geral da União garanta recursos para custear as operações de sustentação de preços e de renda dos produtores rurais.
Assim, os agentes financeiros terão mais segurança e mais garantia ao emprestar recursos, o que evitará o agravamento da crise que uma frustração na safra possa provocar em toda a economia e na sociedade.
Gilberto Goellner é engenheiro agrônomo, produtor rural e empresário do agronegócio e, atualmente, é Senador da República pelo estado de Mato Grosso (DEM).