Antes do início da crise econômica mundial, o setor de reciclagem vivia seu momento de glória, iluminado pelo viés sócio-ambiental quando a sociedade voltava seus olhares para uma atividade outrora desprezada: o ramo dos ‘sucateiros’. Na realidade poucos percebiam o valor dessa atividade como negócio em franca expansão, atingindo cada vez mais recorde de taxas de reciclagem em todas as áreas de abrangência: ferrosos, não ferrosos, plásticos, papéis e vidros.
No Brasil, o exemplo ficou visível com a lata de alumínio a partir de 1995. Porém, a atividade se remonta até antes da revolução industrial, quando Lavoisier descobriu o que a mãe natureza já fazia enunciando: “Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Se contemporâneo fosse, diria que tudo se recicla. A razão disso é simples: reciclar é mais barato que produzir a partir de matérias primas virgens, com forte economia em massa e energia, principalmente.
No mês de setembro de 2008 os primeiros sinais da crise iniciada no setor imobiliário americano acenderam as luzes amarelas do alerta: os preços caíram, as compras das indústrias desaceleraram em uma queda livre nunca antes imaginada. Em seguida, no mês de outubro de 2008, o Sindicato das Indústrias de Reciclagem de Resíduos Industriais Domésticos e de Pneus do Estado de Mato Grosso – SINDIRECICLE já advertia outros setores da economia mato-grossense sobre a crise vindoura, no momento que o governo brasileiro falava em ‘marola’. Em novembro, o Sindicato solicitou à Secretaria de Estado de Fazenda (SEFAZ) medidas concretas para tentar impedir a completa paralisação do setor, solicitando a redução do preço mínimo nos produtos da atividade de ‘sucata’.
O jornal O Estado de São Paulo veiculou no último domingo (18.01) a seguinte matéria: ‘Setor sucateiro entra em colapso e problemas sócio-econômico ambiental são visíveis’. Observamos que, a preocupação do setor se converteu em um assunto da sociedade brasileira.
O grande fornecedor de matéria prima para a indústria de bens de consumo é o setor da reciclagem. Em razão disso, por meio da movimentação dessas matérias primas, é possível perceber claramente a situação do mercado no seu conjunto, isto é, a atividade do segmento atua como ‘termômetro’ que pode monitorar o estado geral da cadeia até o consumidor final.
O problema é que a crise de confiança se instalou de forma estrutural quando os bancos, gestores do dinheiro – combustível que alimenta a economia em todos os setores – falharam. Resta agora aguardar o desdobramento dessa profunda crise de confiança (muito mais que econômica) para saber se o sistema é capaz de utilizar sua imunidade para voltar aos canais normais.
Com o tempo, veremos se o sistema econômico, como o conhecemos hoje, chegou ao fim de um ciclo ou se como no caso de muitas relações humanas, simplesmente se comporta de forma absolutamente sem pudor e faz de conta que não foi com ele. De todas as formas, seja qual for o caminho, a solução não deverá ocorrer em curto prazo.
Resta então assumir uma atitude: o pessimista reclamará da crise, o otimista vai aguardar que ela passe e, os realistas, irão ajustar seus negócios conforme o livre passar dos ventos.
Qual será a sua escolha?
Carlos Israilev – engenheiro mecânico, empresário do setor de reciclagem e Presidente do SINDIRECICLE.