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Craques e pernas de pau

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Outro dia acompanhei uma entrevista do experiente Carlos Bezerra, eterno cacique do PMDB. Ao comentar o cenário que antecede a eleição de 2014 o deputado federal disse que o campo da política é lugar para “craques”, mas por ocasião estava cheio de “pernas de pau”. Fiquei com aquela frase na cabeça. Eu sei que o velho Bezerra mandava naquele momento um irônico recado aos jovens jogadores dentro do grupo situacionista, mas aquela análise me serviu para espiar mais de perto os fatos e caiu com uma luva para o que aconteceria no grupo da “oposição”.

Dentro das quatro linhas o craque é o camisa 10. O homem que chama a responsabilidade do jogo. Recebe a bola, distribui as jogadas, organiza o time e chega na frente para fazer o gol. O perna de pau é o oposto. Não domina os fundamentos básicos, não entende o que pede o treinador e erra um gol feito, em baixo da trave, sem goleiro. Como o mundo do futebol não é feito apenas de talento, existe muito perna de pau jogando. Na maioria das vezes alçado a jogador por um empresário ou padrinho forte.

Na política é assim também.  É preciso ser craque para jogar bem, mas tem realmente muito perna de pau em campo. Há uns 15 dias, Jayme Campos (DEM) era carta fora do baralho na chapa do senador Pedro Taques (PDT). Entrou em um processo de fritura difícil de ser revertido. Tudo por conta de uma jogada que parecia ser genial.

Pedro Taques é de longe o favorito para vencer o jogo, porém tem um craque que pode complicar a partida aos 45 minutos do segundo tempo, Blairo Maggi (PR). Para evitar essa surpresa desagradável, uma ala da oposição passou a trabalhar para trazer Maggi e o Partido da República para o time de Taques. Era uma transação delicada. Nesse jogo cada um tem seu lado e Maggi esta do lado da situação. Em síntese, seria tirar o Neymar do Barcelona para jogar no Real Madri.

Para organizar essa contratação foi escalado o prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB), coordenador da pré-campanha de Taques. Mendes é afilhado político de Blairo. Apesar de ter deixado o time em 2010 e de ter jogado contra (MM foi candidato ao governo contra Silval Barbosa, então candidato de Maggi), Mauro foi escolhido por ser a pessoa mais próxima do senador e dos republicanos. E foi para o campo.

A base abriu o bico. Como se não bastasse a quebra de todo o discurso do que representa Pedro Taques para a sociedade, ainda se coloca em jogo tudo o que o grupo construiu até o momento, especialmente os acordos de cavalheiros, como a vaga ao senado para o senador Jayme Campos. No vestiário falou Percival Muniz (PPS), falou Jayme, falou Zeca Viana (PDT). Todos absolutamente contra a movimentação.

Mas o jogo seguiu. Com carta branca, Mauro dominou a bola no meio de campo e avançou sem se importar com os companheiros que pediam a bola. Na ânsia de se destacar em uma jogada individual anunciou o gol antes mesmo de chutar. À imprensa, disse que Blairo havia desistido, finalmente, de sua candidatura. Disse mais. Disse que tudo era fruto de um “acordo” costurado por ele para trazer o PR para o time de Taques. Em um minuto, fotos, flashes, manchetes, bicos e sorrisos. No outro, a bola fora.

A resposta de Maggi foi dura: “Mauro mente descaradamente…nunca houve esse tipo de acordo espúrio com Mauro Mendes”. A declaração desequilibrou Mauro. Imediatamente a base se reuniu com Pedro. Mauro nem foi ao campo. A decisão foi dura. Se o PR quer vir, que venha sem impor condições. E que venha apenas depois de deixar todos os cargos do governo Silval até o dia 26 de maio. Jayme voltou a ter o caminho livre para sua vaga ao senado, Pedro voltou a ter o seu discurso de oposição e Mauro, bom, Mauro teve que se contentar com o banco de reservas. Em terra de craques e pernas de pau, vale um pensamento que aprendi ainda nos tempos de menino, no Uirapuru. Time que joga junto, ganha junto.

Raoni Ricci é jornalista, corintiano e cuiabano

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