No dia 19 de março último, empresários do setor de base florestal se reuniram na Assembléia Legislativa de Mato Grosso para uma audiência pública com o propósito de busca de uma conciliação política para as sucessivas operações policiais, que culminam agora com esta Arco de Fogo. É um assunto indigesto e volto a tocá-lo por absoluta necessidade de um posicionamento institucional da Federação das Indústrias, como da própria economia mato-grossense.
Já dissemos aqui neste espaço tudo o que podia ser dito a respeito da insanidade da operação Arco de Fogo. Falamos das retaliações do Ibama contra Mato Grosso, falamos do desmanche da economia nas regiões Norte e Noroeste, falamos da injustiça política da atual administração federal contra cidadãos pacatos que vivem nessas regiões. Realmente, não há nada mais que se possa falar porque será bater em ferro frio, naquilo que dependemos da burocracia brasiliense, fria e distante do Brasil.
Naquele encontro na Assembléia Legislativa, 200 empresários se mobilizaram rapidamente, fretaram ônibus, percorreram a péssima rodovia federal BR-163 até Cuiabá. Trouxeram de Sinop um vergonhoso vídeo com 10 minutos mostrando imagens das truculências da Polícia Federal e do Ibama dentro de indústrias de madeira legais e, rigorosamente, dentro da lei ambiental. Burocratas do Ibama fazendo um teatro de medição de madeira nos pátios, porque de medição nunca entenderam. Uma vergonha!
Além do mais, propositalmente, o Ibama decidiu não reconhecer os métodos de medição da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), a quem delegou por acordo legítimo em 2005, todas as tarefas relativas à fiscalização e ao licenciamento florestal. As madeiras estocadas nos pátios das indústrias estão dentro dos critérios de medição e de licenciamento adotados pela Sema. Mas, o Ibama preferiu usar critérios antigos e ultrapassados só para criar arestas incontornáveis.
As dificuldades que começam a surgir na economia de municípios como Sinop e Alta Floresta, por exemplo, são muito ruins. O desemprego já está nas ruas, tanto das indústrias de base florestal, como do comércio e dos serviços que se alimentam do giro da economia regional. Mas parece que esses fatos não interessam ao Ministério do Meio Ambiente, ao Ibama com a sua histórica omissão e corrupção e, tampouco, ao governo federal.
Naquele encontro na Assembléia Legislativa, tive a oportunidade de reivindicar a legitimidade da presença dos habitantes das regiões Norte e Noroeste, como pioneiros que abriram aquele mundo desconhecido há pouco mais de 30 anos. Os pioneiros, na sua maioria, já morreram e, hoje, são a segunda e a terceira gerações que conduzem a política e a economia locais. É claro que no começo houve erros ambientais. Houve fiscalização mínima porque na época a ordem era ocupar a terra, pois o Brasil tinha pressa em resolver problemas sociais de habitantes do Sul e do Sudeste que viviam em condições indignas nas periferias das grande cidades.
Porém, ao longo do tempo, tudo isso mudou. Persistem erros, mas não é a regra geral. Hoje, predomina um sentimento de cidadania mato-grossense e de amor à terra. Outras operações serviram para indicar a necessidade de correções, ainda que à custa da quebra de cerca da metade da economia regional. Mas os grandes erros do passado há muito não existem mais. Ninguém quer destruição e, tampouco, pretender acabar com as potencialidades florestais amazônicas que garantirão futuro às próprias gerações.
Repetir tudo isso aqui neste espaço parece, absolutamente, surrealista, porque é tão óbvio que poderia ser compreendido sem mesmo precisar dizê-lo. Mas vivemos tempos de muita intolerância. O governo de Mato Grosso enviará, nos próximos dias, o projeto de Zoneamento Agroecológico e Econômico para apreciação na Assembléia Legislativa. É um instrumento moderno e eficaz para determinar exatamente as atividades econômicas adequadas a cada região, e os parâmetros de sua aplicação.
É um instrumento com alta capacidade de monitoramento pelo governo, e com a mesma capacidade de indicar a correta utilização do solo e dos recursos naturais, além de acompanhar limites de desmatamento e de exploração. Esperamos, sinceramente, que depois do zoneamento amplamente discutido com o mundo político, com o empresariado e com a sociedade, a estabilidade de vida se restabeleça em Mato Grosso, e o Ibama, ou quem quer que seja, não repita mais aqui operações policiais vergonhosas como essa Operação Arco de Fogo que não tem começo, meio e nem fim!
Mauro Mendes é presidente do Sistema Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Sistema FIEMT)