Conta a lenda que, no século passado, vivia embaixo da Ponte Júlio Müller no bairro do Porto – ponte sobre o rio Cuiabá e que foi a primeira a interligar a capital à Várzea Grande – um andarilho que atendia pelo apelido de Pacu.
Negrão forte e encorpado que tinha por costume transitar pelo Porto cuiabano conduzindo um carrinho de mão, daqueles de construção, e que, nas horas em que a famosa Feira do Porto funcionava, ganhava a vida como carregador de compras para os feirantes e seus clientes.
O bairro do Porto, tradicionalmente, ostentava e ainda ostenta a fama de bairro boêmio, onde os notívagos seguiam e ainda seguem de bar em bar tomando suas biritas até cair.
E era esse o momento que aguardava ansiosamente o Pacu. Com seu carrinho, mais que depressa, recolhia o incauto e o levava para uma noite inesquecível sob a ponte, onde, protegidos pelo Sarã cuiabano (árvore nativa da barranca do rio), fazia da noite enluarada o seu altar para as núpcias com o descuidado amante embriagado.
É, essa fama o Pacu levou com ele, e deve ter deixado saudades em muitos bebuns que passaram por ali.
Hoje, quando se fala em tomar umas no Porto, o cuiabano mesmo pensa duas vezes. E acho até, que o Pacu contribuiu para a diminuição da bebedeira lá por aquelas bandas, principalmente, entre àqueles menos afeiçoados a luais sob pontes.
Mas estou contando essa estória engraçada para lembrar-nos de duas outras histórias relacionadas, e nada engraças.
A primeira, é o estado de abandono que se encontra o secular bairro do Porto em Cuiabá e que poderia receber das autoridades mato-grossenses mais respeito, como fizeram as autoridades maranhenses com a Praia Grande em São Luís com o Projeto Reviver, que revitalizou uma área, antes entregue aos marginais (como agora está o nosso bairro do Porto), transformando-a em ponto turístico dos mais visitados e verdadeiro orgulho dos ludovicenses. E olha que compete com belezas como os Lençóis Maranhenses, dentre muitas outras daquele estado.
A segunda, é a recorrente embriagues resultante das festas de final de ano, e que tantas tragédias têm trazido para as famílias brasileiras, que perdem seus entes queridos em decorrência dessa que é considerada a grande vilã dos proto-socorros do país: a bebida, mal bebida.
Quero chamar a atenção para esse mal, que não tem distinguido classes sociais, pois nas classes menos favorecidas a bebida provoca brigas, e, em decorrência delas, muitas mortes são registradas, e, nas demais classes, além das brigas, não menos frequentes, a mistura explosiva de bebida com direção, que tantas vidas vêm ceifando nas nossas ruas e estradas.
Antes, tivéssemos um Pacu em cada palácio, aguardando a queda das autoridades nas farras com dinheiro público, dinheiro que falta para saúde, educação e obras prioritárias como as do bairro do Porto, e, outros Pacus mais, em cada esquina, aguardando esses que teimam em exagerar na bebida.
O diabo é que, no caso dos políticos, muitos até gostarão da idéia.
Feliz Natal, um próspero Ano Novo e cuidado com o Pacu.
Adamastor Martins de Oliveira
cidadão de Mato Grosso
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