Moisés foi corajoso ao dar os primeiros passos no fundo do mar, ladeado por imensas paredes de água que a qualquer momento poderiam cair sobre ele e seu povo. Não fosse ele, teriam todos morrido escravos nas terras do faraó. Também foi ele, sozinho, que enfrentou a montanha para ter com Deus e de lá voltar com os dez mais importantes princípios da Humanidade – três de amor a Deus e sete de amor ao próximo. Encontrou seu povo mais uma vez desiludido, adorando um bezerro de ouro. E mais uma vez foi corajoso. Soube entender seus desafetos, mostrou-lhes os equívocos e os encaminhou para uma vida muito melhor..
Votei no Geraldo no primeiro turno. Agora, estou muito propenso a votar no Lula. O que está influenciando minha mudança são as trapalhadas de Geraldo e a atitude do governador Blairo Maggi. Geraldo congelou sua vitrola de chuchu para tocar uma nota só – o 1,7 milhão de reais do PT, que é caso de polícia. Deveria ter dito apenas que aprofundaria a luta contra a corrupção e apresentar as demais propostas. Perdeu tempo precioso, difícil de recuperar.
Blairo, ao contrário, ganhou tempo. Tem coragem. E é preciso seguir os corajosos. São eles que, com grande dificuldade e sacrifício pessoal, abrem caminhos com os quais a grande maioria sequer sonharia. Corajosos ignorantes podem até fazer muito sucesso. Muitos até ficam milionários. Muitos ficam e permanecem egoístas. Muitos quebram em seus empreendimentos, por usarem apenas a coragem. Corajosos inteligentes fazem muito mais que isso. Proporcionam riquezas para si e para toda a sociedade. E Blairo é muito inteligente. Parece arrogante, às vezes. Talvez de propósito, para afastar bajuladores e interesseiros.
A pavimentação de rodovias foi uma revolução. Mostrou que, unidos, classe produtora e governo podem melhorar a vida de todos. Idéia simples, óbvia, mas que ninguém comprara antes. Lembro-me que, em 2000, na campanha para a prefeitura de Sorriso, meu amigo Natal (Natalício Ligoski), da equipe do Zé Domingos, levantou a questão. Mostrou que era viável pavimentar estradas com a ajuda da classe produtora. A proposta parecia absurda, porque nenhum município fizera. Numa campanha, então, poderia parecer demagogia. Zé se reelegeu e, por onde andava, levantava o assunto. O mesmo fazia Natal. Blairo teve a coragem de comprar a idéia e o resultado não poderia ser melhor.
O governo Blairo não foi uma maravilha. Mas foi melhor do que muitos outros. Poderia ter feito mais pela Educação. Há muita carteira quebrada, precisando de conserto. Há muito o que fazer pelos servidores, que precisam de muito mais do que apenas o salário em dia. Há muito mais a ser feito pela segurança pública. Há muito o que fazer para o aparelhamento das unidades da Polícia Civil e da Polícia Militar. Novos veículos e uniformes de campanha para o Cotar são muito bonitos. Mas é preciso investir nas pessoas que vão operar tudo isso. Há muito o que fazer pela saúde pública. A saúde pública já avançou muito, mas na nossa região deixa muito, muito a desejar. O absurdo é a falta de UTI. O último (?) obstáculo é a falta de um mísero gerador de energia. Note-se que o governo ainda tem “gênios” que compram equipamentos que precisam de energia elétrica de forma ininterrupta, mas não se lembram de, junto, comprar o grupo gerador. Fico pensando se, por economia burra, tais gênios ainda não vão querer ter a “brilhante” idéia de comprar o gerador sem a mangueira de óleo, sem os fios, sem o quadro de comando… e se não vão querer que a comunidade faça “vaquinha” para pagar o combustível e a manutenção.
Há muito o que fazer pelos jovens, que precisam ser inseridos no mercado de trabalho. Há muito o que fazer para consolidar a geração de empregos. É preciso valorizar nossos empresários, nossos produtores rurais, profissionais liberais e a classe produtiva como um todo. É sobre eles que recai a responsabilidade de gerar divisas, empregos e recolher tributos. E é preciso ter ânimo para levar paulada todo dia e ainda prosseguir. Se o governo não atrapalhar já é bom. Se ajudar, melhor ainda. Precisamos da 163 e da ferrovia, para viabilizar a nossa economia e tudo o mais que lhe vem e vai a reboque.
Blairo sabe de tudo isso. Espera-se que a sua equipe – a atual e a nova – também. O apoio ao novo governo Lula parece ser o caminho mais rápido para viabilizar nossas principais necessidades ou boa parte delas. Com as informações que tem, Blairo sabe o que está fazendo. Parece burrice virar-lhe as costas agora. Por que não dar a ele mais um voto de confiança e deixá-lo liderar Mato Grosso por inteiro por mais quatro anos?
Roberto Freire nunca fez nada por Mato Grosso. Geraldo também não. E nem poderá, talvez, pois suas chances de vitória diminuem a cada dia. Caso ganhe, os pleitos de Mato Grosso poderão ser apresentados pelos corajosos que o apóiam por aqui. Além disso, é pouco provável que Geraldo, caso eleito, dê tratamento diferenciado a Mato Grosso – bom ou ruim. Goste-se ou não, parece que é do cajado de Blairo que sairão melhores coisas. Do cajado de seus oponentes, só saem, por enquanto, cobras, lagartos, gafanhotos e outras pragas.
Para Mato Grosso, Geraldo é hoje o bezerro de ouro. O deus de Blairo parece ser o melhor caminho. Todos os que votaram nele têm o dever de ajudar a manter intactas as tábuas da salvação. Se qualquer ira houve por parte de Lula para com Mato Grosso, Blairo, como Moisés, pode ser a salvação do povo e da lavoura. Ao que tudo indica, o bezerro, fundido, estará derretido na noite do dia 29 de outubro. Começa um novo tempo, sem que seus adoradores tenham que ser sacrificados pela tribo dos Levitas.
Leonildo Severo da Silva é advogado em Sinop
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