O cérebro dos recém nascidos lembra um computador “vazio”, tem muito potencial, mas necessita adequada programação, ou seja, é primordial receber estímulos adequados para desenvolver reações, e entre estes estímulos, a audição é importantíssima.
Nosso potencial cognitivo (inteligência), além da genética, depende dos “experimentos” durante a vida, principalmente no período crítico de desenvolvimento, que corresponde aos dois primeiros anos de vida nos humanos. Quanto menor a idade, mais importante os estímulos, incluindo os auditivos.
Além do exposto, um dos atributos e caracterizador da nossa espécie é a comunicação falada, e neste contexto a audição é indispensável. Não existe fala sem audição e mesmo perdas auditivas leves, como nas infecções de ouvido repetitivas podem ser prejudiciais na infância.
Muitas crianças, e mesmo universitários, com alguma dificuldade de aprendizado podem ter alterações no processamento auditivo, ou seja, os potenciais elétricos (som) recebidos pelo cérebro no lobo temporal não pode ser adequadamente processados para interpretação e este problema pode ter sido causado por déficit auditivo lá na primeira infância, mesmo que agora ouça normalmente.
Como exemplo, este autor, em pesquisa de mestrado desenvolvida no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – USP, comparou estes potenciais auditivos cerebrais em escolares com passado de otites médias de repetição nos dois primeiros anos de vida com um grupo sem este histórico de infecções e concluiu que estes potenciais estão alterados nas crianças que tiveram otites no passado, pois na otite média, temos secreção dentro do ouvido (orelha média) e este líquido dificulta a passagem do som, o que justifica esta dificuldade em processar estes sons mesmo agora já adulto, ouvindo bem e sem otite no momento da pesquisa, pois teve falta de estímulo adequado quando a região cerebral que “cuida da audição” estava aprendendo, justificando o que foi relatado acima o que também foi concluído por outros pesquisadores usando metodologias diferentes.
Concluindo, devemos testar a audição dos nossos bebês o quanto antes, de preferência, antes do terceiro mês de vida. Quem ouve bem aprende melhor.
Milton Malheiros é médico otorrinolaringologista em Sinop