A violência doméstica
Dando continuidade às reflexões sobre o tema da Campanha da Fraternidade deste ano que é a superação da violência, é importante e fundamental que se possa perceber a violência como um fato social complexo, cujas origens, manifestações, formas, causas e consequências diferem historica, cultural, temporal, econômica, politica e socialmente.
Diante de uma realidade tão complexa, não se pode ter a ingenuidade de que existe uma fórmula mágica para resolver o problema em todas as suas dimensões. É importante que se faça uma análise a partir de cada dimensão e que as ações também sejam realizados de forma coerente, integradas e jamais compartimentadas, isoladas ou de forma descontínua.
Podemos também identificar os espaços ou territórios, para usar uma linguagem atual e muito em voga, onde a violência se manifesta e como esses espaços estão interrelacionados ou superpostos tornando o problema mais complexo ainda, principalmemnte pelos atores ou agentes envolvidos. Muitas vezes a vítima de uma forma de violência também é agente que pratica outros atos de violência contra outras pessoas e, desta maneira, se forma uma teia que facilita a reprodução da violência de forma generalizada, o que caracteriza a chamada “cultura da violência”, onde todos estamos inseridos, sem excessão.
O primeiro espaço onde a violência está presente e , muitas vezes de forma oculta e dissimulada , é a familia. Estudos indicam que os índices de violência doméstica é muito maior do que as denúncias feitas perante organismos públicos, principalmente junto aos organismos de saúde, policiais e de defesa dos direitos humanos.
Aqui cabe um destaque, tem muita gente que confunde o conceito de direitos humanos com a defesa pura e simples de bandidos, quando na verdade direitos humanos são os direitos fundamentais de todas as pessoas, incluindo a vida, a liberdade de ir e vir, liberdade de expressão, liberdade de opção sexual, liberdade de crença, liberdade para ter uma vida digna, liberdade de a pessoa não sofrer discriminação, ser maltratada, liberdade para buscar ser feliz, sem que isto prejudique o próximo. A superação da violência pressupõe a garantia e a defesa integral dos direitos humanos.
Pois bem, a violência doméstica se manifesta na forma como os pais tratam, cuidam e criam seus filhos e filhas. É comum, não apenas no Brasil como também em diversas países, que pais espanquem filhos/as, sejam extremamente autoritários, violentos em suas relações. Existe muita violência tanto dos pais quanto das mães em relação aos filhos, inclusive uma forma dissimulada de violência que é o abandono, a negligência ou até mesmo atos de violência fisica e psicológica, incluindo assassinatos.
Tais práticas irão moldar o caráter e a personalidade da criança e adolescente e acompanha-las pelo resto da vida, vários estudos indicam que crianças e adolescentes que sofrem maus tratos, sofrem violência doméstica se tornam adultos também violentos e irão reproduzir os memos modelos ou padrões de relações familiares quando adultos; é o que podemos dizer como “reprodução da violência”, culturalmente, geração após geração.
De forma semelhante as noticias e estudos indicam que, no caso brasileiro, por exemplo, existe um alto grau de violência contra a mulher, a chamada violência de gênero, onde boa parte desta violência tem suas raizes históricas e culturais, pelo machismo que está na base da formação cultural de nosso país, onde ao homem, ao marido, companheiro, amante, namorado é dado o direito de posse em relação `a mulher, inclusive seu corpo. Por muitas décadas ou séculos a sociedade brasileira e ainda isto está presente nos dias de hoje, tolera inúmeros crimes contra a mulher em nome da “defensa da honra”, tanto em relação `a esposa quanto `as filhas.
Essas são as raizes do feminicidio, dos estupros, das agressões, dos assassinatos com requinte de crueldade contra mulheres e meninas indefesas, tanto na dimensão da violência doméstica quanto na violência contra as mulheres em espaços publicos, que é o círculo ampliado do universo da violência.
No contexto da violência domética existe também a violência sexual, que não pode e nem deve ser negligenciada, principalmente de pais, padrastos, parentes próximos contra criancas e adolescdentes, principalmente contra meninas, as vezes com tenra idade. Há casos de volência sexual até mesmo contra bebes e criancas com menos de quatro ou cinco anos, uma verdadeira aberração em se tratando de violência contra seres humanos indefesos.
Outra forma de violência doméstica muito frequente são as agressões, por vezes até fatais, de irmãos e irmãs entre si ou de filhos e filhas contra pais e mães, inclusive quando esses são idosos e acabam sendo vitimas indefesas de seus próprios familiares, em um ambiente que deveria primar pelo amor, carinho e compreensão mútua entre seus membros.
Portanto, se desejarmos superar a violência precisamos repensar as nossas relações familiares e subsituir a brutalidade, o autoritarismo, a perversidade, os maus tratos, as agressões físicas, verbais ou psicológicas pelo diálogo, pela solidariedade, pela compreensão mútua, pelo amor, pelo perdão e pela reconciliação, ensinamentos sagrados constanets, principalmente, do Novo Testamemento da Bíblia Sagrada, fonte única da fé cristã.
Não existe sociedade que busque a paz se no seio das famílias existe uma verdadeira guerra que é a violência doméstica, que se manifesta nas formas de violência de gênero, violência contra a mulher e as meninas, violência contra criancas, adolescents, violencia sexual e contra familiares idosos.
No proximo artigo pretendo refletir um pouco sobre a violência no espaco escolar, o segundo território que também é fundamental para compreendermos a violência em sua pleniture; e nos demais artigos sobre outros espaços como o ambiente do trabalho, a comunidade, o lazer, o esporte, o crime organizado, a politica e o que podemos dizer como sendo um verdadeiro inferno que é o nosso sistema penitenciário, uma verdadeira fábrica de muita violência e crueldade.
Juacy da Silva – professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, revistas, sites, blogs e outros veiculos de comunicação
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