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Aquíferos e quando os rios secam

Caiubi Kuhn, Professor na Faculdade de Engenharia (UFMT), geólogo, especialista em Gestão Pública (UFMT), mestre em Geociências (UFMT)
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A crise hídrica tem afetado todo o país, seja pelo efeito na conta de energia ou pelo pouco volume nos cursos de água. No mês de agosto, um vídeo mostrou a cachoeira do Véu de Noiva, um dos cartões postais de Chapada dos Guimarães (MT), minha cidade natal, praticamente sem água. A seca atinge toda região, mas por que alguns rios são mais afetados pelas estiagens que outros? A resposta para essa pergunta está na fonte das águas, que neste caso são os aquíferos. Neste texto vou explicar um pouco sobre como funcionam os aquíferos e porque precisamos entender e preservar esse importante recurso natural.

Existem diferentes tipos de aquíferos, que variam conforme a composição e características das rochas, em algumas delas a quantidade de vazios e a conexão entre eles, permite armazenar e transmitir grandes qualidades de águas, enquanto em outros tipos de rochas, tanto a quantidade de água armazenada, como o fluxo dela é muito menor.

Para ficar mais fácil para o leitor entender, imagine uma esponja daquelas que usamos para lavar a louça e um pedaço de tijolo. Se você jogar água sobre eles, ambos irão se molhar, porém, a esponja irá conseguir absorver uma quantidade de água muito maior, e após um tempo, será possível ver essa água saindo da base da esponja e molhando a pia, ou seja, a água foi armazenada na esponja e depois liberada lentamente. Enquanto isso, o tijolo não conseguiu ter a mesma capacidade para armazenar a água, que escoou assim que foi despejada.

Igual à esponja e o tijolo, na natureza nós temos rochas com uma grande capacidade de absorver e armazenar água, como é o caso dos arenitos, enquanto outras rochas como folhelhos (rochas compostas de argilas) possuem uma capacidade menor. Aquíferos como o Guarani só existe devido à rocha que armazena a água, que neste caso, é um arenito, bem selecionado, ou seja, com os grãos todos similares, o que permite que muitos espaços vazios existam entre um grão e outro. E é nestes espaços que a água do aquífero fica.

A geologia de Chapada dos Guimarães é bem diversa, na região existem diferentes tipos de rochas, o que proporciona aquíferos também com diferentes características. Durante esse momento de crise hídrica essa diferença fica bem visível. Parte dos rios possuem como fonte de suas águas o aquífero do Guarani, como por exemplo, os rios Claro, Paciência, Acorá entre outros. Porém, outros rios como Coxipozinho, que forma a cachoeira do Véu de Noiva, tem como principal fonte de água, as rochas da Formação Ponta Grossa, composta por um folhelho, com uma capacidade muito menor de armazenamento e transmissão de água. Por isso, o volume dos rios que são alimentados por águas do aquífero Ponta Grossa, são mais afetados na estação seca. Outros cursos de água, como córrego Independência, no Parque Nacional, tem como fonte de água a Formação Furnas, que é composta por um arenito com uma capacidade de armazenamento e transmissão inferior ao aquífero do Guarani, porém melhor que o aquífero Ponta Grossa.

Conhecer os aquíferos e saber suas características é fundamental para o planejamento do uso e ocupação do solo e para que seja realizada a gestão deste recurso tão precioso, que é a água.

Os aquíferos são reabastecidos pelas chuvas, porém, dependendo das mudanças realizadas na superfície, a água tende de escorrer para os rios ao invés de infiltrar no solo e nas rochas, para ali ficar armazenada. Além disso, em épocas como a atual, onde está ocorrendo um período de estiagem com chuvas abaixo da média, quando se considera todo o ano, a quantidade de água que sai dos aquíferos pode ser menor que a quantidade de água que entra, o que significa que o uso das águas subterrâneas deve ser feito também com planejamento e gestão adequada.

O mundo precisa fazer de forma correta os debates sobre mudanças climáticas e sobre como o homem pode realizar o planejamento para lidar com as oscilações naturais do clima e com as mudanças antropogênicas. Porém, esse debate também precisa ser feito regionalmente, associado com a correta gestão e planejamento do uso e ocupação do solo. É preciso que tenham estudos técnicos e análises que fundamentem o desenvolvimento de cidades ou mesmo a implementação de empreendimentos. Não podemos ignorar as limitações que a natureza nos impõe. Estudar para planejar é preciso. Somente assim podemos construir um futuro com responsabilidade e sustentabilidade.

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