As eleições deste ano estão impressionantemente fora da zona de interesse do eleitor, a menos de 60 dias do pleito. Pelas ruas não se vê muitos carros adesivados. As esquinas ainda não foram totalmente ocupadas por cabos eleitorais tremulando bandeiras. As discussões ainda não dominaram os botecos e os salões de barbearia. Apenas os candidatos, até o momento, estão inteiramente preocupados com as eleições.
O fenômeno merece atenção dos analistas. Vamos tentar abrir (ou entrar) nessa discussão. Penso que alguns elementos podem contribuir para a compreensão dessa realidade.
1) Os donatários de mandatos não estão empolgando os eleitores. Tanto o presidente Lula como o governador Blairo Maggi, no caso de Mato Grosso, são favoritos, mas não despertam a paixão da militância. Talvez pelo fato de ambos não terem militância. O PT já teve militância, mas hoje os petistas andam com a estrela escondida no bolso, e não mais na lapela, como nas últimas eleições. Já Blairo nem partido tem, uma vez que o PPS não tem tradição no Estado, e só cresceu pelo fermento que representa deter o poder.
2) As oposições, tanto no caso nacional como no local, também não empolgam. No caso nacional, o PSDB nunca foi um partido de massas, tampouco de grande popularidade. A propósito, pesquisa realizada pelo IBOPE nas eleições de 2000 em todo o Brasil demonstrou que apenas 38% dos eleitores das capitais tinham preferência por algum partido político. Já em São Paulo, o PSDB tinha a marca pior avaliada, com um índice de +6, contra +21 do PFL, +65 do PMDB e +66 do PT (o índice é resultado de critérios de auditoria de marca defendidos por Silvia Cervellini, no livro Marketing Político e Persuasão Eleitoral, organizado por Rubens Figueiredo).
Já no caso estadual, PT e PSDB, que formam o núcleo das oposições, também estão desarticulados e sem intervenção real no movimento de massas, o que deve exercer um forte grau de influência na apatia registrada.
3) Os escândalos que se abateram sobre os parlamentares fizeram recrudescer ainda mais sua impopularidade perante a opinião pública. Mensalão e Sanguessugas, no caso federal, e os nossos mensalinhos no caso estadual. Em geral, todas as pesquisas feitas nesse pleito mostram um grau de indecisão na modalidade espontânea assustador, que se mantém em certa medida na modalidade estimulada.
Logo, o quadro atual é perturbador, porque pode estimular reações como a do voto nulo, tratada aqui neste espaço na última semana. E pode ainda provocar uma abstenção recorde, sobretudo para os cargos proporcionais.
Um ambiente de apatia e frustração, contudo, pode provocar um cenário pior e ainda mais perigoso, que é o surgimento dos salvadores da Pátria, do naipe de Fernando Collor de Mello, ou algum profeta do apocalipse, com desdobramentos imprevisíveis para a sociedade. E reitero: a imprevisibilidade é sempre um risco para a democracia. O tema é vasto. Voltarei ao assunto.
Kleber Lima é Jornalista, Consultor Político filiado à ABCOP (Associação Brasileira de Consultores Políticos)