Assisto, pasmo, os bastidores da eleição da nova mesa diretora da Câmara de Cuiabá. Pelo andar da carruagem, veremos nos próximos dias aquela cena ultrajante (ultraje aos cidadãos comuns) de confinarem vereadores em algum hotel de beira de estrada, incomunicáveis, para garantir que os acordos que resultaram na formação da chapa sejam cumpridos.
Esse processo de eleição de mesas diretoras há muito rompeu os limites do bom senso e da moralidade. Representam, em última instância, o fim da política. Não há debate público e transparente sobre qual chapa pode representar melhor a instituição. Que visão de relação institucional entre Legislativo e sociedade cada uma tem. E não é por falta de temas relevantes.
Qual o papel do Poder Legislativo Municipal, por exemplo, frente a alguns problemas cruciais da vida da cidade, como o sistema de abastecimento de água e tratamento de esgoto? Há, de fato, necessidade de privatização da Sanecap? Como está a saúde financeira da companhia? Que tipos de problemas ela enfrenta?
E o transporte coletivo? O que os vereadores, em particular, e a Câmara, como instituição, têm feito, de prático, para contribuir para a melhoria do sistema público de transporte? Foi preciso que a sociedade organizada se mobilizasse para garantir um mínimo de discussão sobre este tema, inclusive atropelando o Poder Público, tanto Câmara como Prefeitura.
Qual a relação que o Poder Legislativo Municipal deve estabelecer com o Executivo? Quantas vezes o prefeito municipal, ou os secretários, comparecem à Câmara, espontaneamente, para debater com os nobres Edis assuntos pertinentes à vida do cidadão, das pessoas que são o fim de ambos?
Como pode a Câmara, que tem como uma de suas finalidades precípuas a fiscalização dos atos do Poder Executivo, envolver-se em questões delicadas como a suspeita de desvios de recursos de seu próprio orçamento, ou problemas com a sua prestação de contas? Qual a responsabilidade da Mesa Diretora nesses imbróglios e qual a responsabilidade de cada vereador?
Essas são apenas algumas perguntas que deveriam estar sendo respondidas pelos vereadores em geral e em especial pelos candidatos a membros da Mesa Diretora. E o duodécimo da Câmara? Quanto é? Para que serve? Onde tem sido investido?
Qual a influência do prefeito Wilson Santos nessa eleição? É papel do chefe de outro poder interferir nesta eleição? Por que os candidatos vão beijar-lhe a mão, se os poderes são interdependentes e autônomos?
Aliás, quanto custa o voto de um vereador na chapa A ou B numa eleição para a Mesa Diretora da Câmara de Cuiabá? Não custa nada, custa o trabalho de sair de casa e ir votar, custa cargos na própria câmara, custa cargos no executivo, custa acordos futuros, custa facilidade eleitoral no próximo pleito, custa aparecer mais na mídia? Quanto custa, senhores vereadores, representar bem, e com dignidade, o mandato que lhes foi outorgado pela municipalidade? Acho que pelo menos essa resposta os senhores e senhoras nos devem!
Kleber Lima é jornalista e analista político em Cuiabá
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