Existe um certo pensamento mágico entre as pessoas de que com a chegada de um novo ano os problemas desaparecem e tudo se renova. Isto faz parte de um sentimento inato do ser humano de, mesmo em meio a dificuldades, problemas, desafios, alguma força sobrenatural possa agir em nosso favor e transformar a realidade.
Todavia, isto não é verdade, pois, com excessão dos desastres naturais, desde que não sejam provocados pela irresponsabilidade das ações humanas como aconteceu em Mariana, Minas Gerais, tudo o que acontece no mundo em cada país ou local, é fruto das ações ou omissões humanas, sejam as pessoas mais simples sejam os governantes que agem de forma desonesta/corrupta ou decorrente da incompetência em planejar e agir racionalmente.
Outro aspecto, o tempo não é cíclico com o dia e a noite ou as quatro estações do ano, que se renovam a cada 24 horas ou a cada tres meses, ou seja, o tempo é continuo e imutável e isto representa a dimensão do processo histórico, com suas peculiaridades culturais, sociais, políticas, religiosas e econômicas. A diferença do que acontece em um ou outro país decorre da combinação desses fatores e jamais da innfluência de divindades, entidades, deuses ou demônios. Por mais que algumas pessoas acreditem que ao se oferecer comida, flores, rezas, preces ou orações, isto não vai transformar pessoas corruptas em honestas, governantes e gestores incompetentes e irresponsáveis em seres competentes e responsáveis de uma hora para a outra, ou transformar políticos mentirosos e demagogos em representantes que falem a verdade e deixem de enganar o povo antes, durante e depois das eleições.
No caso do Brasil, por exemplo, dezenas e dezenas de passagens de ano, milhões de pessoas costumam se vestir de branco ou amarelo, na vã esperança de que naquele minuto mágico da contagem regressiva quando o relógio se aproxima da meia noite e no próximo segundo um novo ano vai raiar, enquanto as pessoas em júbilo se abraçam e festejam o raiar de um novo ano, os problemas continuam bem ao nosso lado, bem a nossa frente.
O caos na saúde pública que afeta todos os estados e todos os municípios, onde milhões de pessoas sofrem com a falta de atendimento não vai acabar por que um novo ano se inicia, pois os governantes e gestores que produziram e produzem este caos continuam os mesmos, agindo de forma cínica como se nada estivesse acontecendo, afinal a baixa qualidade dos serviços públicos em geral e da saúde em particular não lhes afeta, quando precisam de cuidados médicos ou hospitalares recorrem `a rede privada, pagando os custos, geralmnte com dinheiro público, enquanto os contibuintes, eleitores ou os excluídos tem apenas um Sistema falido que é representado pelo SUS.
A violência, seja a decorrente da bandidagem , do crime oranizado, de acidentes de trabalho ou do trânsito continua crescendo, ano após ano o número de assassinatos, estupros, sequestros, tráfico de pessoas e mortes nas vias públicas e rodovias aumentam. Só as mortes violentas no Brasil devem superar este ano que se finda mais de cem mil pessoas, muito mais do que há dez ou vinte anos, em rítimo muito maior do que os índices de crescimento populacional ou de urbanização.
A educação também continua muito aquém dos desafios provocados pelas mudanças tecnológicas ou das necessidades do progresso individual ou coletivo, milhões de crianças continuam fora da escola ou tendo um aprendizado abaixo das exigências de uma educação de qualidade. As universidades públicas continuam sucateadas e as greves de professoreres e trabalhadores do ensino superior são constantes motivadas por falta de recursos e de políticas de valorização do ensino.
A crise econômica, o aumento do desempreo, a queda dos investimentos, a inflação, a recessão, a desvalorização cambial, as taxas de juros absurdas, a inadimplência que já afeta mais de 56 milhões de pessoas, o descontrole das contas públicas, a dívida publica que deverá superar R$ 2,8 trilhões em 2015, ultrapassando 70% do PIB e o rebaixamento da nota do Brasil por duas agências de classificação de risco fará de 2016 um ano muito ruim para o país e para todos os brasileiros. Tudo isso em meio a operação lava jato e a tentativa de impeachment da Presidente Dilma e a crise política.
Finalmente, a falta de rumo e a mediocridade tanto do governo federal quanto dos governos estaduais e municipais atestam que este novo ano nada mudará radicalmente. Por exemplo, das 55 metas previstas para serem realizadas em 2015, o Governo Dilma realizou integralmente apenas 6; e das 922 de todos os governos estaduais 72,3% ficaram apenas no papel.
Mesmo assim, não podemos perder as esperanças, em 2016 teremos eleições municipais e em 2018 eleições gerais e aí o povo terá oportunidade de dar um cartão vermelho aos políticos incompetentes e corruptos. Só assim poderemos dizer sempre FELIZ ANO NOVO!
Juacy da Silva – professor universitário, titular e aposentado, mestre m sociologia
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