Várias pessoas, quando crianças, têm seus amigos imagináveis. Com eles conversam, brincam e até mesmo os consultam antes de tomar decisões. Eu também fui assim. A diferença é que mesmo depois de adulto, eu continuo tendo esses meus amigos imagináveis. Pode parecer conversa de maluco, mas isso não vem ao caso agora. O que quero escrever aqui agora é uma conversa que tive com um desses “amigos’.
Seu Adamastor é um agricultor, que graças a uma pequena horta iniciada há uns dois anos no seu sítio, conseguiu um padrão razoável de vida para sua família. Conseguiu comprar uma camionete usada, têm televisão, parabólica, computador, só falta a “tal internet”, como ele mesmo fala. Tem até conta em banco e cartão de crédito.
Certo dia, enquanto eu via o noticiário na TV, Seu Adamastor surgiu furioso ao meu lado (Se lembrem: Ele é um amigo imaginário) comentando sobre uma notícia que acabara de ouvir sobre a criação de um novo imposto, uma tal de css, um substituto para a extinta cpmf.
Tentei explicar para Seu Adamastor que é um imposto criado para destinar mais verbas à saúde pública. Ainda furioso, ele me interrompeu, perguntando que diferença eu havia visto durante todos esses anos que convivemos com a cpmf. “Eu só via diferença na hora em que minha filha tirava os extratos da conta no banco.” Disse ele.
“Durante todos esses anos com a cpmf, eu sempre enfrentei enormes filas nos hospitais e postos de saúde, sempre tive que pagar caro pelos remédios, isso, quando fui atendido, muitas vezes por uns “doutor” muito mal-humorados, por sinal”. Emendou ele.
Antes que eu pudesse me manifestar, Seu Adamastor concluiu: “A única diferença que a gente percebia quando tinha esse imposto, era o que descontavam da gente na nossa conta. Então, a única coisa boa que vi com a cpmf, foi quando ela acabou”.
E assim do jeito que apareceu, Seu Adamastor se foi, indignado com a possibilidade de um novo imposto.
E eu fiquei ali, sentado, refletindo sobre o que ele havia dito. Com simplicidade, Seu Adamastor expressou o sentimento da maioria da população brasileira. Aquela sensação de estar enchendo o bolso de algum político corrupto, sem ter sequer o direito de reclamar.
No Brasil, como sempre, quando se fala em novos impostos e obras faraônicas (leia-se PAC), fica sempre aquela sensação de que vai começar uma nova festa com dinheiro público desviado. E esse dinheiro, infelizmente, não é fruto de nossa imaginação
Rogério Manoel Rosseto é vendedor em Alta Floresta