Ao longo de nossa história política recente, principalmente após o início da chamada redemocratização marcada por um novo ordenamento legal e constitucional, um discurso, nada democrático, vem ganhando foro de verdade quase que inquestionável. Refiro-me a uma idéia bastante difundida, principalmente durante as camapnhas eleitorais, onde partidos que estão no poder tentam manipular a vontade dos eleitores, a ser definida nas urnas, argumentando que devem ser escolhidos candidatos que sejam do mesmo partido do Governador ou de quem esteja presidente da República. Este alinhamento politico, segundo este discurso falacioso e totalitário, pode ser tanto em termos de partido ou de grupo de partidos que façam parte da chamada base do Governo estadual ou federal.
Em artigo escrito há algum tempo argumentei que a aliança, por exemplo, que sustentou o Governo Lula e sustenta o atual (Dilma) no Congresso Nacional é baseada no instituto da sub-legenda, artifício criado sob a inspiração do general Golbery do Couto e Silva, durante o regime militar.
Naquela época havia um partido do Governo (Arena/PDS) e um de oposição consentida (MDB/PMDB) que agiam no Congresso Nacional de forma subserviente, com raras excessões, enquanto nos Estados o conflito era camuflado pelas sub-legendas (Arena 1, 2,3, 4 etc) e no bojo do MDB/PMDB onde ficavam os grupos que se opunham aos militares tanto em termos políticos, ideologicos, quanto estratégicos e táticos.
Isto é também o que ocorre atualmente. O quadro atual de alianças para a definicão de prefeitos e câmaras municipais é uma verdadeira salada de frutas, onde a coerência ideológica ou de programas e princípios partidários jamais são vistose respeitados, além das famosas correntes internas que ainda existem em partidos como o PT, que se digladiam o tempo todo.
Vejamos o caso de Cuiabá e em tantos outros municípios. O candidato do PT a prefeito, vereador Lúdio Cabral, tem apoio da cúpula de seu partido nos níveis estadual e nacional mas não conta com o apoio da corrente da ex-senadora Serys Marli. De quebra conta também com o apoio do PMDB do Governador Silval Barbosa e do ex-governador, atual deputado federal Carlos Bezerra. Ma s nem assim suas chances de vitória parecem ser alvissareiras, segundo as últimas pesquisas de opinião pública.
O candidato Mauro Mendes que está tentando chegar a prefeitura pela segunda vez, depois de também ter tentado ser governador, derrotado há dois anos pelo atual governador, tem apoio total de seu partido, o PSB e também de dois outros partidos de peso no cenário regional e nacional, o PR do ex-Governador e atual senador Blairo Maggi, padrinho politico do candidato e do PDT, representado pela figura carismática do Senador Pedro Taques e de vários outros partidos, incluindo PV e PPS. Todos, com excessão do PPS, fazem parte da base do Governo Dilma.
O terceiro candidato, o deputado Guilherme Maluf do PSDB mantém aliança com o DEM em coerência com a última disputa para o Governo do Estado, quando o candidato desta aliança foi o ex-Prefeito Wilson Santos. Há vários anos o PSDB e DEM mantêm alaiança no plano nacional, onde outros partidos como o PSOL, PPS e PSTU estão na oposição ao Governo Federal, sustentado pelo PT e demais partidos ( verdadeiras sub-legendas como já argumentado).
O quarto candidato, Carlos Brito representa o recém criado PSD sob o comando do prefeito paulistano Kassab e em MT pelo vice-Governador Chico Daltro, Presidente da Assembéia Legislativo, Deputado José Riva e o Deputado Federal Eliene. No plano federal o PSD tem permanecido em cima do muro, ora acena para a oposição ou cai no colo do Governo e aqui em MT "rompeu" com o Governo Silval e agora parece que o mesmo está retornando mais forte do que antes, se a medida for o número de cargos de primeiro escalão.
O quinto candidato, Procurador Mauro, representa o PSOL, partido surgido das lutas internas do PT e que ainda não conseguiu se firmar como um grande partido de massas e nem de quadros, mas que mantém uma grande coerência em termos de princípios e fidelidade ideologica.
O interessante em tudo isto, a demonstrar a falácia do argumento do alinhamento politico e partidário, principalmente quando enfatiza que quando o prefeito está do mesmo lado que o/a Governador/a ou do/a Presidente os recursos serão carreados com mais facilidade. Isto é uma afronta a democracia, pois os contribuintes e eleitores tem liberdade de escolha e a distribuição de verbas orcamentárias ou das famosas emendas não podem ser definidas na base da filiação ou subordinação dos detentores de cargos federais, estaduais e municipais.
Afora isto, cabe ressaltar que tanto em nível federal quanto estadual, vários políticos e lideranças partidarias atuais, em passado recente, quando da hegemonia do PSDB nos Governos Federal (FHC) e estadual (Dante de Oliveira), rezavam pela cartilha dos donos do poder, da mesma forma que atualmente rezam pela cartilha do PT, do PMDB e da base aliada, os atuais donos do poder!
Voltarei ao tema oportunamente.
Juacy da Silva, professor universitário, mestre em sociologia, colaborador de Só Notícias. www.professorjuacy.zip.net [email protected] Twitter@profjuacy