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Ainda os 2 Mato Grossos (final)

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Encerro esta série de cinco artigos (houve um primeiro no dia 27/1/2011, "Os dois Mato Grossos", com algumas agradáveis surpresas. A maior delas foi o interesse geral pelo assunto. Parecia uma brasa apagada esse ranço histórico entre Cuiabá e Campo Grande, anterior à divisão do estado em 1977. Ele está vivo mais pelo passado do que pelo presente. Mas ficou claro também que os ataques de Campo Grande na defesa de capital como sede de jogos da copa do mundo de 2014, desagradaram em Cuiabá.

Contudo, isso parece menor quando comparado com a grandeza dos dois estados e com as possibilidades de ambos dentro dos cenários futuros da região Centro-Oeste e do país.

Na verdade, os dois estados têm mais em comum que os unem, do que diferenças que os separem. O DNA histórico não mudará nunca, por mais que se troque o nome atual de Mato Grosso do Sul por qualquer outro. As ligações familiares ao longo de dois séculos não se apagam assim, tampouco os traços culturais que, apesar de diferenças regionais, somam no conjunto mais semelhanças do que dessemelhanças.

Recebi mais de 100 depoimentos a respeito destes artigos. Mas um em particular chamou-me a atenção. E vem justamente da cultura. É do humorista cuiabano Justino Astrevo, o Lau da dupla Nico e Lau. Ele avalia assim a discussão toda: "Acredito na integração, acho até que ela está se dando de forma digamos, sublime. Isto avançará através das artes e da cultura. Falo, por exemplo, pelo nosso trabalho (Nico e Lau) que tem uma ótima penetração em MS. Inerente a ele estão o linguajar, a música e a espontaneidade, elementos que ajudam a construir pontes. O carinho com o qual somos tratados lá, muitas duplas sertanejas de Campo Grande e artistas mais consagrados como Almir Sater, Tetê Espindola e outros, também recebem aqui do nosso povo. Eu sei que arte está acima das "coisas terrenas", mas será, que neste caso, a política e não é capaz de imitar a arte?"

Tive o privilégio de percorrer todos os 56 municípios da velha região Sul de Mato Grosso entre os anos 1976 e 1979. Não posso me esquecer da riqueza musical da fronteira paraguaia. A guarânia chorosa das viúvas da Guerra do Paraguai atravessou pro lado de cá e deixou no ar uma tristeza musical, compensada pela alegria do rasqueado que toca lá e que toca aqui, da viola de cocho que junta os dois pantanais. As mesmas músicas caipiras de lá são tocadas cá, velha herança mineira somada com a vizinhança do norte do Paraná e do interior paulista. O chamamé é típico de Mato Grosso do Sul, mas se pode dizer que o rasqueado daqui evoluiu muito e está se casando com outros gêneros de música, como o forró, o vanerão e as músicas gauchescas trazidas junto dos migrantes gaúchos, paranaenses e catarinenses. A gastronomia é siamesa.

As artes plásticas, por exemplo, foram profundamente influenciadas aqui pelo genial Humberto Espíndola que mora em Campo Grande, e por sua fantástica mulher, Aline Figueiredo, corumbaense que mora em Cuiabá. Os murais emblemáticos do Palácio Paiaguás são de autoria de Humberto. Viu? Temos mais em comum do que pensamos. Ah. Diria o leitor. O sotaque é diferente. Mas em Corumbá e na influente região pantaneira ele é igual ao daqui, porque as origens são as mesmas: portugueses, negros e índios bororos. O que há de diferente, são regionalidades lingüísticas, sem perder a essência.

Encerro estes artigos recordando as entrevistas que fiz entre 2000 e 2002, junto com o cineasta Joel Leão, para o videodocumentário "A Divisão de Mato Grosso". Conversamos com todos os ex-governadores de Mato Grosso, com historiadores de lá e de cá, com políticos e personalidades influentes dos dois estados. A imagem que me ficou foi a de uma profunda melancolia pós-divisão lá e cá, e uma sensação forte de carinho, lá e cá. Portanto, mais do que remoer o passado, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul devem comemorar o berço original e se abraçar com os olhos no futuro. Como diria o ex-governador José Fragelli: "somos todos mato-grossenses!". O ex-governador Garcia Neto me disse: "sem a divisão seríamos hoje o 5º. Estado mais rico do país".

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

 

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