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A vez dos partidos

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Ainda no tema da semana passada, sobre a apatia que domina o contexto das eleições deste ano, um cenário desanimador como este recoloca na cena política a importância dos partidos políticos. Partido visto como representação social, ainda que segmentado a setores sociais, e partido também como aparelho ideológico.

Quanto ao aspecto da representação social, a qualidade (qualidade aqui referida como “natureza”, sem juízo de valor) dos partidos depende e muito da qualidade de seu quadro de militantes, com destaque para aqueles que exercem funções públicas, que são os que têm mais visibilidade. E aí reside um grande gargalo dos partidos, porque, via de regra, os seus representantes nas funções públicas seguem na prática a égide do próprio cargo que exercem, e não a dos partidos.

Isso perpassa pela discussão de fidelidade partidária. E pode ser mais facilmente notado no caso do legislativo. Por exemplo, quando um deputado segue a orientação do líder do governo e não a do líder do partido numa sessão da Câmara dos Deputados ou na Assembléia Legislativa, sendo que as duas são divergentes. Isso encabula o processo e enfraquece a representação partidária.

Quando ocorre de o partido ignorar os anseios do grupo social que representa para atender à orientação do governo de plantão, verifica-se a mesma coisa, sendo que nesse caso, a deslealdade deixa de ser meramente do parlamentar. Ela passa a ser institucionalizada. É mais grave. Porque retira, inclusive dos partidos, a condição de guardião da fidelidade partidária.

Agora, a dimensão mais relevante dos partidos, que abrange essa primeira, mas é mais ampla, é de aparelho ideológico. Essa função inclusive independe da representação parlamentar ou pública. Porque leva os partidos a criarem relações mais orgânicas com o grupo social que propõe representar.

É um modelo antigo, reconheço. Mas, a modernidade da flexibilização das relações sociais dos partidos está na origem da sua crise de credibilidade. Por isso, o antigo não significa necessariamente o ultrapassado. Resgatar a relação orgânica dos partidos com a sociedade talvez seja medida mais eficaz e urgente do que a reforma político-partidária tão decantada para explicar a fragilidade das agremiações.

Aliás, esse já é um erro grosseiro. Legenda, agremiação, sigla, são palavras que não representam a grandeza dos partidos. Reduzem-nos a meros veículos de passageiros de toda natureza. O melhor sinônimo de partido é partido mesmo. E partido significa a vanguarda de um determinado grupo social, quando não de uma determinada classe social/econômica. E vanguarda não influencia nada nem ninguém se não incorporar no seu discurso e na sua práxis o sentimento real da retaguarda. Ou seja, se o Brasil tivesse partidos realmente enraizados na sociedade, talvez essa crise institucional não existisse. E se fosse inevitável, talvez não criasse um vácuo representação tão arriscado para a nossa democracia. Talvez esteja na hora daqueles que enxergam política como espaço de militância e mudança social começarem a revitalizar os partidos. Para a existência de ambos.

Kleber Lima é Jornalista, Consultor Político filiado à ABCOP (Associação Brasileira de Consultores Políticos), e Consultor de Comunicação

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