Já se disse, com propriedade, que a realidade social não nasce pendente em árvores, ela é fruto de uma construção diária, com a interpretação dos fatos que acontecem à nossa volta e com ações que visam determinados objetivos. Ocorre, no entanto, que paralelo ao trabalho da construção da realidade, que gera os frutos social e do conhecimento, existe outro caminho que produz frutos venenosos, gerados com a mesquinhez de seres que existem para desfazer, desconstruir e que promovem o desacerto social, combustível que lhes move.
O ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, tinha como lema que “uma mentira, contada mil vezes, torna-se uma verdade”. Os descontrutores da realidade abusam dessa premissa e, aproveitando do desconhecimento sobre determinado tema, criam (pré) conceitos que privilegiam as versões sobre os fatos.
E os trabalhos dos descontrutores sociais são tão bem executados, tão massificados, que mesmo pessoas que estão no topo da chamada “pirâmide social”, mesmo pessoas esclarecidas, assimilam os disparates e, inconscientemente, reproduzem a distorção, a versão que receberam.
Para ilustrar, temos que recentemente fui julgado em um processo eleitoral, do ano de 2006, onde houve uma denúncia de que teria havido abuso do poder econômico. Em resumo, o denunciante alegou que teria havido o pagamento de um jantar a correligionários após um comício. Segundo a versão apresentada, o suposto jantar teria sido fornecido por mim como uma espécie de chamariz para que houvesse presença maciça ao evento.
O fato ocorrido foi o de que, após uma reunião política realizada em Tangará da Serra, no Tangará Tênis Clube, onde estive presente por cerca de 15 minutos apenas cumprimentando as pessoas, haveria um jantar. No entanto, e isso ficou muito bem esclarecido nos autos, o local seria usado após a reunião para um jantar, promovido por terceiros e para o qual os participantes da reunião onde estive sequer foram convidados. Salvo, é claro, uma ou outra pessoa, o que é natural em qualquer cidade.
Assim, o relator do processo, que analisou detidamente os autos e pôde conhecer a realidade dos fatos, votou pelo indeferimento. O mesmo ocorreu a outro magistrado, que pediu vistas para melhor estudá-lo. Os magistrados, de fato, buscaram a verdade por meio das provas, através do que lhes fora apresentada como veículo condutor para a promoção da Justiça.
Outros magistrados preferiram optar pelo deferimento da denúncia, tendo apenas conhecido o processo em sua superficialidade e sendo vitimados pela distorção da realidade, produzida com conceitos antecipados e revelando uma relativa ingenuidade, que escolheu o conforto do pragmatismo casuístico ao enfrentamento da situação e verificação do que foi constatado pelos que buscaram conhecer a verdade.
Houve até mesmo, neste caso, a aceitação do fato como sendo o jantar oferecido para “alimentar os miseráveis”, ditos por uma pessoa que não esteve no local, não assistiu à cena e tampouco conheceu o processo. Seria cômico, se não fosse trágico.
Sempre preguei a transparência no processo eleitoral e defendi o trabalho prestado como bandeira para conquistar votos. As pessoas que trabalham comigo em campanha sabem que sempre recriminei com veemência a compra de votos. Nunca precisei e não foi diferente nesse processo. Se não conseguisse conquistar votos apenas com todo o trabalho que desenvolvo, seria melhor reavaliar minha conduta.
Necessitamos, todos, buscar a verdade das coisas. Dar privilégio aos fatos e desprezar as versões. Do contrário, continuaremos a fazer a prática nazista de contar mil vezes a mesma mentira, para que ela assuma ares de verdade.
José Riva é deputado estadual reeleito em Mato Grosso