“Vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade”, (Eclesiastes 1:2; 12:8), da mesma forma que o salmista Davi escreveu “deste aos meus dias o comprimento de alguns palmos; à tua presença, o prazo da minha vida é nada. Na verdade, todo o homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade” (Salmo 39:5).
De fato, tudo é vaidade: o desejo de acumulação de capital, a avareza, a inveja, o egoísmo, o desejo de beleza corporal, de realização de grandes obras materiais; tudo é vaidade diante do nosso efêmero lapso carnal/temporal, ante a nossa eternidade espiritual e diante de Deus.
Meditando sobre essas passagens, passei a observar alguns acontecimentos corriqueiros e cotidianos sobre os costumes de hoje em dia.
Por exemplo, em uma reunião qualquer, sempre há aqueles que logo tiram duas, três ou quatro fotografias. Tudo bem eternizar a lembrança do episódio. Todos gostam. Contudo, muitas vezes, a recordação pessoal não satisfaz. O intento tem que ser levado ao conhecimento do público. A reunião com os amigos ou a trabalho nada importa se os outros não ficarem sabendo que ela ocorreu. Quanto mais mídia melhor. Na praça, no bosque, na rua, em casa, enfim, em qualquer lugar há um tempo para a selfie. A popularidade é a tônica, os clicks ou curtidas é o que importa.
O raciocínio é: quanto mais aparecer melhor. As pessoas são movidas pela propaganda, pela publicidade. Velhos tarimbados e novos aprendizes.
O que é bom nessa perspectiva fútil? É o que serve para anunciar os feitos, para o aparecimento em público. Isso dá satisfação pessoal, traz aparente felicidade.
Nada se mede, nada de bom no profundo da alma se enxerga. Tudo é superficial. Vai-se aos trancos e barrancos, numa panaceia desvairada de velhas cabeças brancas e novos mestres da bobagem, neófitos inexperientes e arrogantes.
Nos tempos atuais, a discrição com bons resultados é sinônimo de burrice, pois o bom modelo é aparecer nos sites, como se isso fosse sinônimo de capacidade.
Os outros? O resto? Que nada! Ah, sim, são meros substitutos que só fazem bobagem e escrevem besteiras, não sabem tirar fotografias e fazer filminhos para aparecer no jornal ou na internet, nos blogs, enfim, nas redes sociais. Esses, dizem os artistas das selfies, merecem o caldeirão do diabo, reservado, nessa visão de vida, para os maus de marketing.
O que vale hoje não é o ter, nem o ser. Como assim? Sim. É outra coisa, bem diferente: é o apareCER – no Facebook, Instagram, no Twitter, nas mídias sociais e digitais, escritas e faladas, até no tinder! Tinder? É também, e muito mais.
Mas, isso não é de hoje, já havia sido percebido pelos reveladores da sagrada escritura. Assiste toda razão ao Rei Salomão, na frase que ficou gravada em Eclesiastes: “vaidade de vaidades, diz o pregador, tudo é vaidade”.
Mas, o alerta desse deprimente vício, pode ser visto pelo lado positivo, no sentido de conscientizar o ser humano que deve substituir a vaidade, pela solidariedade, pelo amor ao próximo, pelo desejo da verdade, pelo desejo de agradar a Deus, enfim, de fazer o bem sem perguntar a quem, em todas as suas formas.
Quem conseguir fazer isso, pode compensar a crise de existencialismo, pois o Supremo Arquiteto do Universo, o Divino escultor que a tudo cria, que modela e dá forma aos seres vivos, não quer que fiquemos parados, inertes, nos sentindo inúteis, mas que busquemos sabedoria imbuidos de sentimentos nobres em prol da humanidade e, consequentemente, dos desejos do criador, pois, afinal, todos somos irmãos, iguais, vindos do pó e ao pó voltaremos.
Vem a calhar a lição lapidar de C. Torres Pastorino, em seu Minuto de Sabedoria, ao obtemperar que não devemos procurar “colecionar tesouros apenas nesta terra, porque os ladrões podem roubá-lo e seu tesouro pode envelhecer. Além disso, não se esqueça de que, quando partir da terra, aqui deixará tudo, até o seu próprio corpo. Então, por que ser avarento?
Colecione os tesouros das boas obras, do bem que pratica em benefício do próximo, porque essas riquezas o acompanharão além túmulo”.
Enfim, parafraseando Horácio e dando-lhe outra conotação, tal como ensinado no filme Sociedade dos Poetas Mortos, temos que aproveitar logo o dia, tentar fazer mudanças positivas em nossas vidas, esquecer as futilidades, largar o mero desejo de aparecer, levantar cedo e usar a mocidade e a velhice para estudar, meditar, a fim de adquirir sabedoria para fazer coisas boas, úteis a nós mesmos, ao nosso bairro, à nossa cidade, ao nosso estado, ao nosso país, à nossa pátria, engrandecendo e agradecendo sempre a Deus pelas nossas boas obras, pois a vida é como uma rosa, um sopro, de um momento para outro, suas pétalas murcham.