Nunca o conceito de universalidade das universidades foi tão verdadeiro tão necessário. O mundo se desdobrou na onda das inovações tecnológicas e todas as estruturas do pensamento e dos comportamentos foram atingidos indistintamente de país ou de região.
Ao contrário dos últimos 20 anos, em outras épocas quando aconteceram grandes transformações, elas foram mais lentas e deram à humanidade um tempo para adaptação. Antes, a ciência produzia as transformações. Agora, as transformações pela via das adaptações de tecnologias estão atropelando a ciência.
O fenômeno é mundial. Em Mato Grosso, particularmente, a nossa Universidade Federal nos seus 30 anos pôs no mercado perto de 40 mil profissionais que mudaram a face da economia, da cultura e dos comportamentos da sociedade. Mas neste momento, esse mesmo Mato Grosso pede ciência e pede conhecimento para sair dos paradigmas e das contradições do seu crescimento. Construir um desenvolvimento sustentado não se fará sem a ciência.
A UFMT tem cerca de 500 doutores e 400 mestres, em plena capacidade de produção e perfeitamente preparados para a realidade mato-grossense e nacional. Porém, esse extraordinário potencial não está sendo direcionado para a produção do conhecimento que o estado, o cerrado, o Pantanal e a Amazônia requerem. Nos últimos 20 anos Mato Grosso saiu da condição extrativista, da pecuária extensiva e da agricultura de subsistência para estágios tecnológicos avançados de produção. Mas esbarra hoje em questões ambientais sérias e restritivas frente aos mercados, que não se resolverão sem a adoção de políticas públicas e de ciência voltada para a sustentabilidade em todas as suas inúmeras abrangências.
Não vejo como esse papel possa não ser da nossa UFMT. Ela está aqui desde antes dessa fase, produziu os recursos humanos que construíram esse estágio, e agora assiste junto as contradições sufocarem um esforço humano de mais de 30 anos desses mato-grossenses vindos do Brasil inteiro.
Vejo quadros profissionais de apoio administrativo e quadros docentes prontos para assumirem o papel estratégico de produtores de ciência acadêmica. Os cenários mundiais mostram claramente que Mato Grosso será produtor e verticalizador de commodities primárias como carnes, grãos, fibras, madeiras e gerenciador de economia ambiental. Por detrás de cada uma dessas cadeias produtivas, outras se sucedem em cascata, todas demandando ciência acadêmica de uso econômico.
Nossos pesquisadores, com freqüência, padecem de recursos para os seus projetos. Esses recursos estão no mercado nessa percepção de que os estágios seguintes do desenvolvimento sustentado de Mato Grosso e da Amazônia só serão possíveis mediante o uso intensivo de tecnologias que justifiquem a exploração com consciência sustentada.
Não vejo como a Universidade Federal de Mato Grosso ficar fora desse novo estágio. Ela vem de estágios anteriores, todos bem sucedidos e cada um adequado à sua época. O momento atual e os anos próximos serão da sustentabilidade e das tecnologias adaptadas aos comportamentos sociais, à cultura, à economia, à formação de novas lideranças políticas, de tal forma que ela seja uma referência estadual e nacional para os temas de nossa realidade conjuntural.
Por isso, não pode ser uma universidade com orientação político-ideológica e, tampouco, partidária ou personalista, porque viveremos cada vez mais anos de universalidade do pensamento político. Ciência é ciência. Política é política. A associação das duas pode acontecer dentro de circunstâncias adequadas. Jamais por conduta partidária de qualquer orientação política.
O debate da nova UFMT não pode ser um debate apenas acadêmico intra-muros. A nova UFMT terá necessariamente que ser uma universidade extra-muros, de braços dados com a sustentabilidade e com o futuro da economia, da política, da cultura e do humanismo em Mato Grosso. Além, é claro, de produtora de ciência para o uso da tecnologia e do desenvolvimento sustentado.
João Valente é professor da Universidade Federal de Mato Grosso e candidato a reitor nas eleições de 2008