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A política como missão na vida de José Fragelli

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O Brasil perdeu no último dia 30/04 um de seus quadros mais ilustres, o ex-Governador José  Manuel Fontanillas Fragelli. Tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente em sua residência no município de Aquidauana, tendo impressionado-me muito com a simplicidade demonstrada.
 
A carreira de José Fragelli evoca algumas reflexões feitas pelo sociólogo Max Weber no livro “Ciência e Política: duas vocações”. Nesta obra, Weber discute a relação entre a ciência e política e papel de ambas na sociedade industrial. Ao falar da política, ele faz uma distinção entre aqueles que vivem da política e aqueles que vivem para a política. Os primeiros seriam políticos profissionais e os últimos aqueles vocacionados para servir a uma causa maior.
 
No campo científico, Fragelli foi professor, autor de algumas obras e proprietário do colégio Osvaldo Cruz em Campo Grande. Seu exemplo de compreensão da política como missão torna-se mais importante num período como o atual, em que presencia-se a perda de credibilidade das elites políticas e do próprio Poder Legislativo, que ele dignificou no passado. 
 
Destaco aqui três momentos ao longo de sua carreira política em que a postura de Fragelli ficou clara. Em 1958 Fragelli era deputado federal pela UDN, tendo sido o segundo mais bem votado nas eleições de 1954, abaixo apenas do futuro Governador João Ponce de Arruda. Fragelli desistiu da reeleição em favor de Fernando Alves Ribeiro, seu cunhado e ex-prefeito de Aquidauana. Como justificativa para a sua desistência Fragelli apontou o ambiente reinante no Congresso Nacional, marcado pela demagogia e o tumulto.
 
Já em 1969, há dez anos sem mandato eletivo, Fragelli aceitou o desafio de assumir a Presidência do Diretório Regional da Aliança Renovadora Nacional (Arena) em Mato Grosso. Era um momento político difícil em nível nacional, por conta do AI-5 e suas consequências. Em Mato Grosso havia também os conflitos no interior da Arena entre ex-udenistas, ex-pessedistas e a nova ala ligada ao pedrismo. Já em 1970, Fragelli foi eleito de forma indireta para Governador do Estado no período 1971-1975, numa articulação política entre os senadores Fernando Correa da Costa e Filinto Müller com o Presidente Médici.
 
Já fora do Governo do Estado, Fragelli foi um dos principais interlocutores do Presidente Geisel na elaboração do projeto de lei que emancipava Mato Grosso do Sul, tendo sido lembrado para primeiro Governador de MS. Foi candidato a senador na sublegenda da Arena em 1978 com (ou contra) Pedro Pedrossian. Vale lembrar que se metade dos votos obtidos por Fragelli fossem para o MDB, Plínio Barbosa Martins teria sido eleito.
 
Com a renúncia de Pedrossian para assumir o Governo de MS em 1980, Fragelli tornou-se Senador da República por Mato Grosso do Sul. Acabou passando para a oposição ao regime civil-militar e filiou-se ao Partido Popular (PP), incorporado ao PMDB em 1982. Como integrante desta bancada no Senado, foi um dos principais articuladores da candidatura de Tancredo Neves a Presidência da República. Depois, já em 1985, foi eleito Presidente do Senado Federal, cumprindo-lhe empossar o Presidente Sarney no lugar de Tancredo Neves.
 
Em todos estes momentos é possível observar a concepção de política como missão cultivada por José Fragelli. Seu exemplo, assim como seus discursos e textos escritos, seguirão como bússolas para nortear a ação política das gerações atuais e vindouras. Estas são as suas obras mais importantes.  
 
Vinícius de Carvalho Araújo- professor da Universidade de Cuiabá Mestrado em História

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