Participei de um debate com estudantes universitários da UFMT na última quarta (01.06), a convite da professora mestre Marilane Costa. Eram duas turmas juntas, sendo uma de Pedagogia e outra de Letras. O tema, conjuntura política de Mato Grosso.
Falamos sobre política, eleições, sobre a formação histórica que produziu a atual correlação de forças, sobre visão de gestão pública e chegamos a várias conclusões. Uma delas, secundária, forçada por mim, foi a de que alguns setores importantes como Educação e Meio Ambiente, por exemplo, carecem de políticas públicas adequadas, e que a UFMT, como Academia, como centro de produção de conhecimento, cultura e tecnologias, deixa muito a desejar ao não se posicionar de forma substantiva na definição dessas políticas.
Citei educação e meio ambiente para ficar em dois eventos de relevância e atualidade. Na educação, temos um briga pública do setor com o Poder Legislativo. Sem entrar no mérito e principalmente sem tomar partido, o fato é que tudo o que se discute na educação pública de Mato Grosso são obras físicas, convênios para transferência de recursos, e nada de políticas educacionais propriamente ditas.
Não existem bandeiras, e os diferentes governos se prevalecem da percepção simplória que os cidadãos têm da educação para dar-lhes, no máximo, escolas bonitas e alguma estrutura física. A qualidade do ensino ofertada à população, todavia, não se discute.
E não se conhece um posicionamento da UFMT, como referência mato-grossense de ensino superior e, de resto, de universidade, sobre a questão.
Quanto ao meio ambiente é a mesma coisa, ou pior ainda. O estado está sofrendo um processo terrível de questionamentos, nacionais e internacionais, sobre a sua estrutura agrária, sobretudo a devastação das florestas e do cerrado, sem falar do delicado pantanal.
De novo, a UFMT, que tem um Instituto de Ciências Agrárias, outro de Biológicas, outro de Economia, não se posiciona a respeito, na se envolve na busca de soluções para o problema. Um sem-número de pessoas estão se posicionando a respeito, aqui e alhures, mas ninguém representando a UFMT.
Tenho uma relação de gratidão, reconhecimento e respeito com a UFMT. Lá me formei e sei que em seus quadros técnico e de docência tem muita gente qualificada para enfrentar essas questões e outras tantas. Talvez isso aumente a responsabilidade da UFMT, como Academia, com os problemas que dizem respeito ao ambiente em que está inserida. Afinal, o trinômio da universidade é ensino, pesquisa e extensão, que pressupõe, por sua vez, interação sócio-econômica e cultural, entre outras.
No meu tempo de estudante a Oca, bonito prédio de concreto imitando uma casa indígena, onde funciona a sede do Sindicato dos Docentes (Adufmat), era um palco de grandes debates sobre educação, política, meio ambiente, etc. E por lá se via posicionamentos brilhantes de pessoas não menos brilhantes e engajadas como Zé Domingues, Roberto Boaventura, Ávila, Eudson, Tomaz, Galetti, Paulo Speller, Bolanger, Luzia Guimarães, César Miranda, Maria de Lourdes Delamônica, Fernando Lima, João Fortes, entre outros cujos nomes vou cometer a indelicadeza de omiti-los por pura falha de memória.
A impressão que se tem, daqui de fora, é que a Oca, aquela barricada do compromisso público da UFMT, pegou fogo, foi demolida ou simplesmente abandonada, para o infortúnio da sociedade mato-grossense, que deixa de ter a sua grande universidade, sua Academia, como vanguarda dos processos de transformação da realidade.
Kleber Lima é jornalista e Consultor de Comunicação da KGM