O Estado de Mato Grosso tem vivenciado um aumento na produção de energia e produz energia hidrelétrica, energia do bagaço de cana, etanol, biodiesel, lenha, carvão vegetal, resíduos de madeira, casca de arroz, todas fontes renováveis. A biomassa responde pela maior parte da energia primária produzida em Mato Grosso, mais que 70%.
De 2004 a 2014 a participação destas fontes aumentou, sobretudo, pela elevada produção de energia hidrelétrica e dos produtos da cana. Somos autossuficientes em produção de energia elétrica, tendo aumentado em 10% entre 2013 e 2014. O que amplia a segurança energética local, em termos de fornecimento de eletricidade para os setores da economia. Além da disponibilidade do gás natural para produzir eletricidade e para utilização na indústria, no transporte e nos serviços.
Em 2014, por exemplo, consumimos 60% de toda a eletricidade produzida exportando o excedente para outros estados através do Sistema Interligado Nacional. Porém, a independência energética é uma questão complexa. Nem sempre há disponibilidade de fontes para atender às diversas necessidades. É um grande desafio para o setor energético brasileiro assegurar investimentos que promovam a sua sustentabilidade e Mato Grosso tem procurado superar este desafio.
É significativo o potencial local para o desenvolvimento de fontes renováveis de energia. O potencial de energia hidráulica é elevado (53% do potencial do Centro-Oeste), mas atualmente são aproveitados somente 15% (9% em operação e 6% em construção). A biomassa da cana propiciou a produção de 1 milhão e 152 mil metros cúbicos de etanol em 2014, ou seja, 5,9% a mais que em 2013, apresentando um excedente de bagaço de cana da ordem de 1 milhão e 200 mil toneladas, ainda não exploradas. Um potencial que corresponde a uma usina de potência de 80 MW elétricos.
O biodiesel vem aumentando a sua participação na matriz, respondendo por quase 10% pela oferta interna de energia primária. Mas o nosso consumo energético é extremamente dependente dos derivados de petróleo e torna a nossa matriz 60% não renovável devido a um grande volume de óleo diesel demandado, liderando o consumo energético no Estado.
No caso de Mato Grosso, especificamente, é altamente desejável a inserção incentivada da biomassa; nós podemos transformar a cana e palmáceas tropicais em energéticos e produzir oleaginosas com possibilidades de aproveitamento industrial para fabricação de biocombustível. Igualmente, o cultivo de florestas plantadas para produção de energia, seguindo a tendência mundial, entre outros.
Assim, o projeto energético da biomassa requer um planejamento de longo prazo pelo Estado – tão forte no agronegócio e dado o seu enorme potencial com diretrizes para o cultivo de espécies apropriadas, uma vez que está provada a substituição da gasolina pelo etanol, como também do óleo diesel pelos óleos vegetais. É a base imprescindível de um projeto estadual de desenvolvimento. E esse será o foco do 1º Congresso de Bioenergia de Mato Grosso, uma oportunidade para se discutir o cenário atual e o futuro da geração de energia.
O Congresso, que é uma realização da Famato, Aprosoja e Senar-MT, será realizado entre os dias 12 e 14 de setembro, no Cenarium Rural em Cuiabá, vem com o intuito de promover essa discussão e tentar trazer à tona respostas a questões como: o que é necessário para aumentar a participação das fontes renováveis e vencer desafios? Políticas públicas de incentivo às fontes alternativas são sempre uma saída para remover barreiras de mercado e atuar diretamente utilizando fundos recolhidos de consumidores para financiar ações diretas nesta área, por exemplo.
Um bom planejamento, suportado por políticas públicas de longo prazo e bem formuladas, pode auxiliar com eficácia na solução de impasses. No caso dos biocombustíveis, apoiado pelas políticas energéticas em consonância com as políticas agrícolas do país e do estado, é iniciativa essencial para se atingir soluções de compromisso entre os dois objetivos: produção de energia x produção de alimentos.
Está aberto o debate. Está aberto o convite, pois acreditamos que estas políticas devem avançar além do objetivo básico de suprir energia com custo competitivo e sustentabilidade ambiental, mas que favoreçam também o desenvolvimento de novas tecnologias agrícolas, impondo-se um planejamento mais abrangente, considerando a sinergia entre a cadeia bioenergética e a de produção de alimentos.
Ivo Leandro Dorileo é engenheiro eletricista, doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos pela UNICAMP, coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Planejamento Energético da UFMT
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A matriz energética mato-grossense
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