Já se tornou lugar comum dizer que o Brasil é o país dos contrastes. É também o país da incoerência, dos desencontros, das incongruências e, principalmente, da falta de respeito no trato da coisa pública e para com as pessoas. Vamos abordar um pouco de tudo e encerrar com a falta de respeito.
Oficialmente existem hoje, só em reservas federais pouco mais de 54 milhões de hectares espalhados em 250 áreas distintas, nenhum outro país do mundo chega perto disto, nem em números absolutos, nem proporcionalmente. Isto ainda sem contar com as reservas particulares existentes por conta da proibição que impede a abertura de novas áreas para produção agrícola, aberração válida somente para a Amazônia. Sem verbas, equipamentos e efetivo humano para fiscalizar tudo isto, a saída fica na impunidade quando não esbarra na corrupção, situação mais comum e corriqueira.
Ambientalistas e cassandras associam investimentos externos à palavras tais como "exploração das nossas riquezas e especulação". Indistintamente são estas mesmas vozes que se insurgem contra os dólares que, via bolsa de valores, financiam a nossa produção, ou ainda contra o FMI quando não conseguem nem uma coisa nem outra.
Capital é um "animal" arredio e tem pavor de fracasso. Para crescer um país precisa de recursos para investimentos como o ser vivo necessita do oxigênio. Nós não temos capital privado – poupança – suficiente para investir, nem capital público porque que já se gastou mal tudo que tinha e até o que não tinha, tanto que nossa dívida remonta ainda algumas gerações. Isto sem contar custos de corrupção e de fomentar vagabundo dando dinheiro a quem não trabalha, numa clara e inequívoca compra de votos institucionalizada.
Investidores externos – empresas – só o fazem com perspectiva de rentabilidade. Com desemprego em alta o mercado encolhe porque ele é uma decorrência da distribuição de renda, e assim o investidor tem seus objetivos frustrados, porque eles só ganham e tem seus investimentos remunerados se houver mercado que é uma decorrência da existência do emprego e renda.
Na última década, especialmente da sua metade em diante, o Brasil recebeu investimentos de 85 países, entres de Portugal com 4,5 bi, da França 5, da Holanda 10, da Espanha e EEUU 12. Todos, independentemente de suas origens, acreditando que iriam ser desfeitas as amarras da legislação trabalhista, do fosso previdenciário e do cipoal tributário, coisa que não aconteceu, resultado: no aguardo de um clima mais favorável reduzem nas suas atividades, até porque vantagens imobiliárias e isenções temporárias são as de menos importância neste contexto. Isto porque eles não são especuladores imobiliários e esperam uma realidade trabalhista que não os faça ir às barras do tribunal a cada demissão. Todavia, o Brasil, pelo seu tamanho e potencial, será sempre um mercado atraente num primeiro momento.
O nó da questão é que nós que vivemos aqui viemos de outras regiões. Houve uma época que fomos estimulados a ocupar a Amazônia atendendo a o apelo de integrar para não entregar. Apelo de governo, diga-se de passagem. O fizemos e hoje nos brindam com uma legislação estúpida, discricionária e totalmente alheia a nossa realidade como se não existíssemos como brasileiros e, muito pior: como gente. Simplesmente não podemos usar a terra que adquirimos com o fruto do nosso trabalho e sacrifício das nossas famílias e filhos, como fazem os que dirigiram seus investimentos para outras regiões do país. Em nome de um ecossistema abandonado nos obrigam a redução das nossas atividades econômicas por conta de pressões e coletes, não raro, alienígenas, numa clara e inequívoca demonstração de incoerência e falta de respeito. Estou certo que fui ainda muito suave…
Djalma Franco é economista e administrador de empresas em Sinop