Quando Itamar Franco assumiu a Presidência da República, logo após a deposição do Collor, a economia atravessava um estado crítico de desorganização. A inflação alcançava milhares por cento ao ano. Em apenas oito meses Itamar teve quatro Ministros da Fazenda. Fernando Henrique Cardoso foi precedido por três técnicos (e políticos) altamente experientes e com larga folha de serviços prestados. Foram eles: Gustavo Krause, advogado tributarista, que já tinha sido Prefeito de Recife e Governador de Pernambuco; professor-Doutor Paulo Haddad, economista especialista em planejamento econômico que já tinha sido Ministro do Planejamento e o também professor-doutor Eliseu Resende, engenheiro civil que trazia em seu vasto currículo uma elogiada passagem pelo Ministério dos Transportes. Nenhum deles, a despeito de toda a experiência e credibilidade pessoal, durou mais do que noventa dias no cargo.
Itamar Franco dava uma ordem direta aos seus ministros: "baixar as taxas de juro". Como não era obedecido, trocava o ministro. O que o engenheiro Itamar, com a sua formação cartesiana, não sabia, ou se recusava a aceitar, é que economia não é uma ciência exata. Baixar ou subir taxas de juros não é expressão de vontade, mas sim de possibilidade. A queda nas taxas de juros só foi possível com a organização do sistema econômico levada a efeito pelo plano real.
Hoje a ladainha continua. A inflação está fugindo do controle e a conversa predominante nos bastidores da política econômica não é se, mas sim quando o Banco Central vai começar a elevar novamente as taxas de juros. Na última reunião do COPOM, realizada em março, todos apostavam na majoração das taxas, o que não se realizou, para surpresa de muitos. Mas podem apostar, da próxima não passará: os juros voltarão a subir.
O governo injetou excessiva liquidez no sistema para conter a crise mundial, que assolou o país desde 2008, o que esta provocando inflação de demanda (situação em que a capacidade de compra é maior do que a de oferta de produtos). Os recursos injetados no sistema, via aumento dos créditos bancários, redução de tributos e aumento da massa salarial, se por um lado evitou uma queda na atividade econômica, o que levaria o país a uma recessão, por outro aumentou consideravelmente a demanda agregada. Hoje se percebe claramente sinais de superaquecimento da economia.
Mas, por outro lado, precisamos encarar o fato de que, a despeito da propaganda oficial, o país não está preparado para crescer. Pensar num crescimento de cinco ou seis por cento ao ano é ilusão passageira. Para ter um crescimento sustentável de 6% ao ano o Brasil precisaria investir em torno de 22% do PIB e, no entanto, mesmo estando atravessando um momento considerado espetacular nessa área, a taxa de investimentos prevista para 2009, gira em torno de 16,7% do PIB. Muito abaixo do desejável.
Dos quatro países do bloco chamado BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil é o que investe menor valor em máquinas, equipamentos e construção. A China é a campeã, investe 43% do PIB; a seguir a Índia, com 33% do PIB, depois a Rússia, com 20,2% do PIB e finalmente o Brasil com apenas 16,7% do PIB.
Parece que estamos fadados, pelo menos durante um bom tempo, a alçar vôos como as galinhas, curto e desengonçado. Se quisermos voar como as águias, deveremos fazer direitinho os inevitáveis deveres de casa, os investimentos necessários. É preciso a coragem dos estadistas para apostar mais no futuro, ainda que isso traga algum desgaste no presente. Popularidade faz muito bem ao ego, mas o julgamento da história não tem sido muito favorável aos governos populistas.
Waldir Serafim é economista em Mato Grosso
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