O título traz em si uma dualidade. A bênção deputado Romoaldo Júnior. Bênção dada ou bênção tomada? A bem de Alta Floresta, ao meu, ao seu, ao nosso, que sejam as duas: a tomada e a dada. Afinal, sempre foi assim, sempre lhe foi tomada à benção. Peregrinos da saúde em suas eternas idas e vindas a (e de) Cuiabá, quando de seus três mandatos de deputado estadual, uma vez que os dependentes da saúde, em Alta Floresta, sempre capengaram e mendigaram, na capital, o direito de viver um pouco mais ou de morrer com a dignidade de ter tentado sobreviver com a ajuda e a benção do deputado "socorro dos enfermos" na capital.
Depois o parlamentar, "paladino da saúde", com a bênção do povo, teve a oportunidade de governar o carente município de Alta Floresta onde os seus eleitores, moribundos de sempre, continuaram morrendo em Alta Floresta, em Cuiabá, ou no caminho entre uma e outra, tudo isso devido à assistência dada e recebida, ora perrengue, ora tardia.
Romoaldo Júnior, mais uma vez, se fez deputado estadual. Deputado estadual, mais uma vez, com as bênçãos e o voto de um povo que parece viver sob o paradoxo de que é bom ficar doente e ser tratado na capital; que é bom ficar doente e não depender do hospital municipal Albert Sabin de Alta Floresta porque em Cuiabá morre-se com todos os recursos da capital sem se darem conta de que a saúde é, em maior parte do Brasil, uma instituição falida. Uma instituição falida, mas que poderia "segurar a barra" caso houvesse um mínimo de discernimento nas ações e atitude de hombridade de políticos (e políticas públicas) com maior poder de decisão como o Estado e a União.
No caso específico de Alta Floresta – podemos taxar sim o Estado pela promoção desse engodo. O Estado que promete e não cumpre. O Estado representado pelo senhor governador Silval Barbosa vem ao município e assina "N" compromissos que perecem com o papel – diríamos que o buraco é mais embaixo e o rombo mais em cima.
Há mais de cinco anos, no limiar da primeira gestão da prefeita Maria Izaura, fez-se em Alta Floresta um grande movimento pela estadualização do hospital municipal devido ao inchaço em atendimento e total ausência participativa do Estado. Fomos, todos, voto vencido. O hospital sucateou-se. Tal qual a frase onde o sujeito transluz na voz reflexiva, o Hospital Municipal passou de agente a paciente e, de uma forma novamente paradoxal, contribuiu para a homologação de nosso aeroporto que recebeu o seu primeiro voo noturno quando da emergente situação de salvar uma vida e, daquela vez, a vida de uma criança recém nascida.
Recentemente, para não dizer que já se passaram quase três meses, o governador Silval Barbosa, acompanhado de deputados – entre eles o seu líder na Assembleia, Romoaldo Júnior – do secretário de Estado da Saúde Pedro Henry e de todo o seu staf, esteve mais uma vez no município altaflorestense onde, pela "milésima" vez, rezou-se a mesma ladainha. O alvo, o pivô da história – adivinhem! – foi o hospital municipal: leitos para uma UTI, compromisso assinado e testemunhado para uma ampla reforma estrutural, diagnóstico da grave doença daquela unidade de saúde pública com necessidade urgente de transferência para o estado, foram alguns dentre tantos e tantos outros compromissos assumidos. Blá, blá, blá e blá, blá, blás…
E agora me vem à imprensa, o ilustre deputado líder e porta-voz do governador Silval Barbosa, dizer que "Para a Prefeitura, tudo de ruim que acontece, o governo é o culpado" e "que a prefeitura tem que assumir o seu papel, melhorar a gestão daquele hospital, tem que ter boa vontade em por os investimentos que precisa e o Estado, no decorrer do tempo, vai sim, pondo os repasses…" Romoaldo também ressaltou a importância de o município manter uma aliança com o governo para garantir investimentos no hospital. Pergunto: o mais correto dessa frase não seria a inversão das palavras município e governo? Assim ficaria: "a importância do governo manter uma aliança com o município para garantir investimentos no hospital", enquanto o governo por meio de OS ou o que seja, não o assuma de vez. Por enquanto, a tendência, o prático, é o mais pobre arcar com as conseqüências, vós pobres que se contentem e se sustentem. Hoje o Estado, só na área de saúde, deve ao município mais de um milhão e o whisk and bowl (escambau) de reais…
A bênção senhor deputado.
Carlos Alberto de Lima é jornalista em Alta Floresta
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