A política classista não difere muito da partidária, seja na forma ou conteúdo. Militar em qualquer política é no mínimo se arriscar. Primeiramente o (a) pretendente a cargo eletivo tem que destituir-se de qualquer vaidade e interesses pessoais, pois é uma atividade que não limita a exigência do espírito coletivo. Por esta razão já se torna a primeira grande barreira àqueles (as) que se aventuram nessa corrida que exige além da competência técnica – medida normalmente pela trajetória profissional de cada um – , uma grande e não menos importante dose de competência emocional, componente muito valorizado no mundo das relações, especialmente nas duas últimas décadas.
Para ilustrar esse quadro que se impõe, nada melhor que os casos notórios de mau desempenho de grandes caciques da política, que acostumados aos métodos que inicialmente os colocaram no poder pensam ser duradouros, quando na realidade configuram-se em verdadeiras armadilhas, tornando as situações irreversíveis, o que fatalmente culminam em fracasso político e às vezes, se estendem até o campo pessoal e, conseqüentemente, profissional. São exemplos disso ACM e Sarney. Ao contrário, há aqueles que se destacam por conseguirem aliar a forma de fazer política com popularidade. Destes, destacamos aqui as trajetórias de dois gigantes de um passado recente, Getulio Vargas e JK, e atualmente, os mais notáveis desses “bons exemplos” nos é dado por Obama e Lula.
Outros aspectos determinantes para se realizar um pleito são os de ordem prática, digo, financiamento e logística. Quanto custa uma campanha? Quem vai financiar? De que forma serão alocados e geridos tais recursos? Quem vai cuidar do quê? Enfim, organizar uma campanha requer de seus envolvidos dinheiro, tempo, fôlego, organização, mas principalmente idéias e ideais na cabeça e, no papel. Isso mesmo, pois não basta ter boas idéias, é preciso que elas sejam factíveis, possíveis de realizar, concretizar. E que a memória nunca falhe, pois promessa é dívida.
A Seccional da OAB de Mato Grosso elegerá seu novo presidente em novembro próximo. Pela lógica, estamos em tempos de pré-campanha. Mas há quem diga que pré não existe e que tudo que se faz é sempre campanha. Também é tempo de muita movimentação por parte de todos os envolvidos nesse processo, que para surpresa de muitos, vem se configurando em um mega evento. Mas uma coisa tem me chamado mais a atenção ultimamente, a especulação. Lamentavelmente, dada a proximidade do pleito, ela está sobrepondo em muito as ações que devem nortear as proposituras das possíveis Chapas que disputarão a vaga de presidente da Ordem em Mato Grosso.
Alguns questionamentos pontuais sobre essa forma de fazer política merecem reflexão. Como por exemplo, dar respostas a todas as indagações feitas logo acima já é um bom começo para aqueles que acreditam que o processo sucessório não acontece, ele se faz, ou melhor, ele é feito. Outra coisa, ter clareza do “potencial da máquina” no fortalecimento da candidatura quando da sua indicação, pois em situações onde há privilégios não há concorrência, há no máximo uma desleal disputa. Sabemos que é saudável disputar, desde que para isso as condições sejam democraticamente equitativas. Cada um luta com as armas que tem, há de ponderar os mais afoitos certamente, mas até quando e onde isso deve ir? Deveremos nos preocupar com limites? Para uns, o céu é o limite, no entanto, para outros é o chão, que o diga o velocista jamaicano Usain Bolt.
Independente do pano de fundo dessa paisagem desenhada, mas principalmente sem os costumeiros extremismos, é certo que as indefinições ora existentes devam ser resolvidas, pois nada pode fugir do controle, como num concerto, uma nota em desalinho faz a orquestra desafinar. Digo sem controle por motivos óbvios: de ambas as partes, ainda perduram dúvidas em torno de nomes para concorrer ao cargo e o “uso da máquina pela Situação” é preocupante e vexatório se considerarmos as tendências atuais de práticas políticas, partidária ou classista, orientadas para o máximo de transparência, lisura, respeito aos princípios éticos, valorização da participação popular, enfim, todos os quesitos que caracterizam os ditames da moderna política no mundo atual.
Infelizmente não é o que temos vivenciado com relação a esse pleito da OAB-MT. O atual presidente Francisco Faiad consegue transgredir todas as normas e regras da Casa. Ao “abraçar” publicamente a campanha de um determinado candidato, além de demonstrar um movimento explícito de desconstrução da consciência crítica, subestima os valores individuais e nega a própria história da instituição. O que se espera do presidente é que tenha postura de um estadista, sendo capaz de garantir à classe e ao pleito que se aproxima a imparcialidade e a igualdade de condições. Somente desta forma é possível realizar a efetiva e mais legítima manifestação da democracia que um povo pode experienciar. Não se pode tolerar que o presidente da Casa da Democracia vicie e contamine o processo eleitoral com seu comportamento tendencioso.
Por acompanhar campanhas em outros estados, percebo que, guardadas as proporções, temos muito a aprender sobre políticas classistas e tudo que envolve esse universo tão instigante. Ainda sofremos as consequências da imaturidade, e é claro que só a conquistaremos na prática, ou seja, fazendo política, vivenciando as experiências do dia a dia de nossa instituição, afinal, a OAB-MT é muito recente. Por isto, penso que além de criarmos nossos próprios caminhos, devemos inteligentemente ser, ao menos, bons copistas das ações bem-sucedidas em outras localidades, pois se isso foi recorrente até para o genial Pablo Picasso, o qual chegou a declarar que “O bom artista copia, o grande artista rouba idéias”, imaginem as possibilidades dessa prática no universo jurídico!
Em um cenário onde predominam a indefinição e a prática de muitos erros, a única certeza é o nosso desejo de mudança nos rumos da instituição que tem a grande responsabilidade de (re ) conduzir o tão necessário processo de moralização da advocacia de nosso estado. E o tempo urge.
Sebastião Monteiro é advogado em Cuiabá