Ao menos 9 índios das etnias Munduruku e Kayabi estão envolvidos com o esquema ilegal de extração de ouro, desarticulado pela Polícia Federal. É o que apontam as investigações que contam, inclusive, com interceptações telefônicas. Documentos como o acordo entre um dos líderes indígenas e o proprietário de uma das balsas, encaminhado para a Fundação Nacional do Índio (Funai), também são indícios da participação deles no esquema.
Segundo o que já foi apurado pelas investigações, índios das aldeias Papagaio e Kuruzinho, na divisa dos estados de Mato Grosso e Pará, participam ativamente do esquema. O líder de uma das aldeias seria proprietário de uma das balsas de extração. Além de explorar e acobertar a entrada de garimpeiros na reserva, ele agenciava outros índios para trabalhar com os garimpeiros.
Além dele, são suspeitos de participação direta no esquema outros dois líderes. Em uma das mensagens, enviadas ao dono de uma das balsas, um deles afirma que a exploração é permitida porque a Funai não presta a devida assistência. "O garimpo vai continuar".
Interceptações telefônicas apontam que todos eles possuem contato direto, tanto com os donos das balsas que fazem a extração irregular no Rio Teles Pires, quanto com empresários e funcionários de três empresas que fazem a compra do ouro. Um dos líderes, inclusive, foi flagrado ao pedir o pagamento de "2 contos", que seriam, de acordo com a PF, R$ 2 mil, a título de pedágio. No telefonema, feito a uma pessoa identificada como Daniel, que seria o administrador de uma Compra de Ouro no município de Itaituba (PA), ele faz esta solicitação.
O clima na região de Alta Floresta permanece tenso. Agentes aguardam o cumprimento de uma ameaça de que três mil índios invadiriam a cidade. O ataque seria uma retaliação ao confronto registrado na última quarta-feira (7), que terminou com a morte de um índio e outros seis feridos, além de três policiais. Embora acusem a PF de agir com truculência, interceptações mostram que o líder indígena já havia determinado aos índios que atacassem os agentes. O esquema, desmantelado um dia antes do ataque, resultou na prisão de 17 pessoas em três estados, dos sete que tinham atuação da quadrilha.