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Um caso de afogamento é registrado em Mato Grosso a cada cinco dias

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O Corpo de Bombeiros registrou um caso de afogamento a cada 5 dias em Mato Grosso em 2017. Este ano, mergulhadores retiraram 60 corpos de rios e piscinas na Grande Cuiabá e no interior. Foram 44 casos de afogamentos clássicos, ou seja, de vítimas que foram vistas perdendo as forças até sumirem nas águas. Outras 16 mortes ainda não foram comprovadas se o afogamento ocorreu em consequência de questão anterior, como mal súbito por exemplo ou até homicídio, com ocultação de cadáver em meio aquático.

O local “campeão” em óbitos por afogamento é a Passagem da Conceição em Várzea Grande. Na comunidade rural, um dos cartões postais de Mato Grosso, é cultural tomar banho de rio para se refrescar do calor. Em todas as localidades, sejam mais ou menos arriscadas, a maioria dos sinistros ocorre por imprudência. Envolvem bebida alcoólica ou excesso de auto-confiança.

São vítimas preferenciais banhistas e pescadores. Crianças também morrem desta forma. “Estas são as ocorrências mais tristes”, lamenta o sargento Enéas Xavier. Há 22 anos, ele atua como mergulhador da corporação e conhece tudo da problemática. “Tem gente que acha que sabe nadar, mas não sabe. Uma coisa é deslizar na água; outra coisa é se garantir”, ressalta.

O Estado é cortado por duas bacias hidrográficas – a do rio Paraguai e do rio Amazonas. Os afluentes delas se diferenciam pela cor da água, profundidade, força das correntezas, entre outros aspectos. Uma coisa em comum é que são mananciais arriscados. Mergulhador experiente, o sargento Xavier explica que o rio Cuiabá e outros da Bacia do Paraguai têm águas escuras. “Quando a gente mergulha atrás de vítimas, a partir de três metros não exerga mais nada. Se liga a lanterna aquática, parece um carro quando acende farol à noite em estrada empoeirada”, compara o bombeiro. 

Porém não são tão fundos. O rio Cuiabá tem em média 4 metros de profundidade, embora poços que se formam no fundo cheguem a medir 25 metros. O equipamento de mergulho do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso é apropriado para chegar a 60 metros. Principais perigos no rio Cuiabá são as correntezas camufladas sob as águas, também chamadas de “rebojos”, e os poços cheios de galhos de vegetação. “A gente entra neles para fazer resgate, mas amarrados em corda, e sempre em dupla, esta é a regra”, rassalta o militar, afirmando que até para gente especializada é um perigo chegar até eles.

Já nos mananciais da Bacia do Amazonas, como o rio das Mortes, Araguaia e Teles Pires, as águas são mais claras, fartas e profundas. “Mesmo assim tem quem tente atravessar de um lado a outro da margem. Isso não é recomendável”, ressalta.

Um local profundo onde têm ocorrido muitos afogamentos é o lago de Manso, que tem de 15 a 80 metros de profundidade. No dia 11 de junho deste ano, bombeiros acharam o corpo de um homem de 25 anos, que estava desaparecido há 3 dias. O corpo foi encontrado a 30 metros do local do afogamento, boiando. O rapaz estava em uma ilha do lago, com dois amigos, quando o barco se soltou do cais. Ele pulou no rio e tentou nadar até o barco. Não conseguiu. Um dos amigos ficou na ilha e o outro conseguiu subir na embarcação.

O Manso é um local onde uma parte das vítimas é de classe média alta. Mas, de acordo com o sargente Xavier, a maioria dos casos é de pessoas de baixa renda que veem nos rios opção de lazer. Como o clima é quente o ano inteiro, os casos são incessantes e aumentam sensivelmente no verão.

Para mudar esta realidade, na opinião do sargento, só conscientizando os banhistas e pescadores porque pela extensão de água doce no Estado seria praticamente impossível fiscalizar tudo. “Não sabe nadar, não entra. Viu alguém se afogando e não sabe nadar, não adianta tentar salvar, melhor é jogar uma corda, uma boia e chamar socorro imediatamente. Tem que prestar atenção onde nada. Os rios que formam praias têm bancos de areia. A pessoa está tomando banho aqui e de repente cai no buraco”, alerta o mergulhador. “Agora, se você caiu na água, não se desespere. Solta o corpo e deixa a água te levar, é a saída menos pior”.

O Corpo de Bombeiros de Mato Grosso tem cerca de 70 mergulhadores minimamente qualificados. O sargento Xavier leciona em cursos de resgate em meio aquático. Quando ele começou nessa profissão, era amador. “Cheguei em Mato Grosso, em 1994, comecei de forma amadora. A primeira vez, de qualquer coisa impactante na vida, a gente nunca esquece, diz o ditado”.

A primeira vez que Xavier mergulhou foi atrás de um homem que caiu no córrego 8 de Abril. “Vi o corpo no fundo do córrego, que na ocasião estava com 3 ou 4 metros”, relembra. De lá para cá, perdeu as contas de quantas vítimas resgatou e é por isso que sempre repete.

Xavier é carioca e sempre gostou de nadar, só que no mar. Conheceu o rio quando veio para a corporação. Segundo ele, o rio é muito mais perigoso. Quem confirma isso são as estatísticas. Dos acidentes registrados no país, 70% são em água doce e 30% regiões litorâneas. Segundo ele o trabalho dos mergulhadores é difícil, mas serve para dar às famílias o direito ao sepultamento. O barco fica na superfície. Em dupla, presos em cordas, com o cilindro de oxigênio preso à boca, fazem um trabalho arriscado, que exige coragem.

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