O Tribunal de Justiça decidiu que Jackson Furlan, 29 anos, principal suspeito de matar a agrônoma Júlia de Souza Barbosa, 28 anos, também deverá ser julgado por tentativa de homicídio cometida contra Vitor Giglio, que era namorado da vítima. O crime ocorreu no dia 9 de novembro de 2019.
No ano passado, a juíza Emanuelle Chiaradia Navarro Mano determinou que o réu fosse julgado apenas pelo assassinato da agrônoma, sendo levado a júri por homicídio qualificado, cometido por motivo fútil. Na decisão, ela derrubou uma das qualificadoras (crime cometido mediante recurso que dificultou a defesa da vítima) e a acusação de tentativa de homicídio contra o namorado de Júlia.
O Ministério Público, então, recorreu ao Tribunal de Justiça, alegando que “as provas produzidas” demonstraram “os desígnios autônomos” de Furlan na prática dos crimes. Para a Promotoria, houve “dolo eventual empregado na conduta, eis que a vontade do agente foi dirigida a um resultado determinado, porém vislumbrando a possibilidade de ocorrência de um segundo resultado, não desejado, mas admitido, unido ao primeiro”.
Os argumentos convenceram os desembargadores da Terceira Câmara Criminal, que mudaram a sentença da juíza. “Do cotejo dos elementos colacionados, ainda que o recorrido Jackson Furlan não tivesse a intenção de atingir terceira pessoa dentro do veículo – além do motorista Vitor Giglio, é admissível que tenha previsto esta possibilidade e aquiescido com ela, porque no momento do disparo, o carro das vítimas estava com os vidros [com insulfilme] fechados”, comentou o relator, Juvenal Pereira.
“Desse modo, não se pode excluir de plano que o recorrido não teve a representação do resultado morte com relação a outras pessoas que estivessem no carro, ainda que como resultado secundário, admitido no íntimo, ou mesmo ignorado, quando não deveria sê-lo, o que permite a configuração de uma tentativa de homicídio com relação à vítima Vitor Giglio, porque efetivamente correu risco de morte”, completou o desembargador.
Furlan segue preso. Em dezembro do ano passado, conforme Só Notícias já informou, a defesa ingressou com o pedido de soltura no Tribunal, alegando que a prisão é “ilegal” em virtude da ausência dos requisitos autorizadores. Destacou também que a decisão de mantê-lo na cadeia “não está pautada motivação concreta e em fatos contemporâneos”. Liminarmente, o pedido já havia sido negado. Posteriormente, ao analisarem o mérito do recurso, os desembargadores decidiram manter a prisão.
De acordo com a apuração feita pela Polícia Civil, Júlia estava com o namorado na casa de amigos, quando decidiram ir embora. No caminho, a pedido da agrônoma, o casal foi até a conveniência de um posto de combustíveis, situado na avenida Natalino Brescansin, região central de Sorriso. Em seguida, o casal seguiu na caminhonete Toyota Hillux para dar um último passeio, antes de retornar para casa.
No percurso, um VW Gol preto passou a andar devagar pela via, fazendo com que o veículo em que estava o casal também reduzisse a velocidade. Naquele momento, Furlan, também conduzindo uma caminhonete, teria se aproximado e começado a buzinar, forçando passagem pela via estreita e que possui fluxo lento.
O veículo onde estava a vítima seguia em velocidade reduzida, o que, segundo a polícia, enfureceu o suspeito, que estava embriagado. Ele passou a seguir o veículo do casal, que tentou fugir pelas ruas da cidade. Próximo ao Hospital 13 de Maio, na avenida Brasil, o homem disparou contra a caminhonete do casal.
O projétil transfixou o vidro traseiro do veículo e atingiu a vítima, que foi socorrida pelo namorado e levada até um hospital próximo. Entretanto, mesmo com atendimento imediato da equipe médica, a engenheira não resistiu ao ferimento. Júlia morava no interior do Paraná e estava em Sorriso visitando o namorado.
O acusado foi indiciado pela Polícia Civil e denunciado pelo Ministério Público Estadual por homicídio qualificado, com emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima e por motivo fútil. Também havia sido denunciado por tentativa de homicídio contra o namorado de Júlia. Ele teve a prisão preventiva cumprida no dia 10 de novembro de 2019 quando se entregou na delegacia municipal acompanhado de advogados, e segue no centro de ressocialização de Sorriso.