As mulheres já assumem importante papel no negócio chamado "tráfico de drogas", na baixada cuiabana. Este ano elas representaram 17% das pessoas investigadas e presas pela Delegacia Especializada de Entorpecentes (DRE), da Polícia Civil, que fecha o ano com cerca de 700 inquéritos concluídos e mais de 555,7 quilos de entorpecentes apreendidos. A maconha liderou as apreensões com 303 quilos, seguida pela cocaína com 253 quilos. Até o início de dezembro, 583 pessoas haviam sido indiciadas pelo crime, sendo 489 homens e 94 mulheres.
Segundo o delegado Gustavo Garcia Francisco, o tráfico de drogas se tornou um negócio familiar, que passa do marido para a mulher e para os filhos, quando o chefe da família é preso. Destaca que o tráfico "formiguinha", a partir de pequenas porções é o que movimenta a cadeia familiar e tem sido foco de investigações da DRE. Segundo ele, desde o ano passado foram realizadas operações voltadas à identificação de famílias inteiras que atuavam no tráfico. Em uma delas chegou-se a uma família composta por pai e filhos que acabou presa. Tanto neste como em outros casos semelhantes, o local onde funcionava a "boca de fumo" e os demais familiares continuam sendo monitorados, pois a possibilidade de outros integrantes da família continuarem a atividade é grande.
O delegado salienta que nestes casos nem os filhos menores escapam e acabam sendo empregados na atividade. A presença das crianças também tem sido frequente no caso das mulheres que atuam como "mulas", no transporte de drogas no estômago (com cápsulas) mesmo amarradas ao corpo ou na bagagem. A maioria delas é de bolivianas, que para tentar enganar o policiamento viajam acompanhadas dos filhos, muitos deles bebês de colo, lamenta o delegado.
Neste aspecto, o tráfico é considerado um problema social grave. Tanto pelo envolvimento dos que atuam nele como pelo problema que acarreta a toda comunidade onde ocorre. Apesar das pequenas apreensões, o tráfico formiguinha fomenta outros crimes nos bairros e é frequente- mente denunciado pela circulação de usuários em busca da droga e pelo consumo nos locais de venda. Além disso, em torno da boca de fumo é comum ocorrerem arrombamentos, furtos e roubos a residências e pessoas por dependentes que buscam dinheiro para a compra do entorpecente. Este tipo de tráfico não traz muito lucro para os traficantes, já que são pequenas quantidades vendidas e grande parte deles usam o produto para consumo próprio, lembra Gustavo.
Explica a que repressão às bocas de fumo e ao tráfico doméstico é um trabalho importante, pois é algo que incomoda a sociedade. Mas a DRE também atua no combate aos fornecedores de drogas que abastecem estes pontos de distribuição. Salienta que quando a Polícia retira de circulação entre 3 e 5 quilos de entorpecente de um fornecedor, está retirando drogas que iriam abastecer 20, 30, 40 bocas da Grande Cuiabá.