A análise de amostras de água coletadas no Parque Indígena do Xingu, no Norte do Mato Grosso, confirmou contaminação por dejetos orgânicos. Realizado no ano passado, o estudo não comprovou a presença de agrotóxicos e fertilizantes químicos na água, mas afirma que o risco deste tipo de contaminação na região é grande e seria necessário realizar testes mais detalhados sobre o assunto.
A pesquisa foi feita pelo Projeto de Manejo Integrado da Biodiversidade Aquática e dos Recursos Hídricos na Amazônia (Aquabio), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), sob encomenda do Banco Mundial. O trabalho é de autoria de Thomas Gregor, do Departamento de Antropologia da Universidade de Vanderbilt, dos Estados Unidos, e aponta que “a qualidade da água foi inquestionavelmente afetada”. Gregor fez duas coletas, entre junho e julho de 2005, no Culiseu, um dos afluentes formadores do rio Xingu, nas proximidades das aldeias Uyaipyuku e Utanawa, do povo Mehinaku (saiba mais). O Parque Indígena do Xingu abriga mais de cinco mil índios, de 14 diferentes etnias.
A pesquisa identificou a presença de um nível acima do normal de Escherichia coli, bactéria cuja presença na água ou na comida indica a contaminação com fezes humanas ou de outros animais. A quantidade do microorganismo em cada mililitro de água é uma das principais medidas usadas no controle sanitário da água potável e de alimentos. O relatório fala em uma “contaminação fecal contínua”. Sob certas circunstâncias, a própria E-Coli, como é conhecida, pode causar intoxicação alimentar, infecção urinária e apendicite, entre outras doenças.
Já há algum tempo, populações indígenas da região têm denunciado casos de intoxicação pelo uso da água. Gregor acredita também que é grande a possibilidade de contaminação por agrotóxicos em virtude do uso intensivo da substância nas fazendas próximas e pelo tipo de inclinação do terreno na região.
“Os Mehinaku já deixaram de usar a água do rio e estão apelando para poços artesianos. Outros grupos da região estão fazendo o mesmo”, adverte Gregor. Ele ressalta que os resultados do trabalho ainda são preliminares, mas foram obtidos com testes que identificam níveis mínimos de contaminação. Segundo o pesquisador estadunidense, o problema deve estar sendo causado pelos dejetos jogados nos rios das cidades que ficam ao redor do Parque e pelo livre acesso do gado aos cursos d´água locais.