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Testemunha descreve pela 1ª vez acidente entre aviões no Nortão

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Revelações importantes foram feitas pelo funcionário da Embraer Daniel Bachmann, que estava no Legacy, responsável pelo acidente com o Boeing da Gol que matou 154 pessoas, em setembro de 2006, na região de Peixoto de Azevedo, no Nortão. Em entrevista ao programa Fantástico da Rede Globo, ontem à noite, ele apresentou a sua versão e por que só agora resolveu falar. Nas gravações, momentos antes do acidente, Joe Lepore e Jan Paul Paladino ainda lutavam pra entender o funcionamento do jato novo que estavam pilotando. “Você teria que, provavelmente, ler o manual para ver qual configuração seria”, diz o piloto. “Estou com medo de ler alguma coisa agora”, responde o copiloto.

“Eu senti um enorme baque. Teve um grande eco dentro da cabine”, lembra Daniel Bachmann, um passageiro distraído, acompanhando clientes e um repórter americano na entrega de mais um jato executivo da Embraer. Ele não viu – ninguém viu – quando o Boeing 737 que viajava na direção oposta se chocou contra a asa esquerda do Legacy 600.”Que diabos foi isso?”, disse um dos pilotos.

Daniel Bachmann afirma que, naquele exato momento, os passageiros não pensaram que fosse outro avião. Eles só pensavam em sobreviver. “Houve um som de alarme, o mapa tinha caído no chão. Foi quando olhamos pela janela e vimos um ponto da asa faltando”. Nos minutos seguintes, da cabine dos passageiros, Daniel viu uma súbita troca de comando. Era a primeira vez que Joe Lepore pilotava um Legacy. “O copiloto falou: ‘Então eu assumo””, descreve o passageiro.

Jan Paul Paladino preparava o pouso de emergência e todos se preparavam para morrer. “A asa estava abrindo, a chapa em cima estava levantando, os rebites estavam saindo e o combustível escorria em cima da asa”, descreve Daniel Bachmann. A descida improvisada na Base Aérea da Serra do Cachimbo no Pará era cambaleante e pouco depois do pouso chegou a notícia: o Boeing da Gol que ia de Manaus para Brasília entrou em parafuso minutos antes das 17h do dia 29 de setembro de 2006 e deixou 154 mortos na Floresta Amazônica.

Só agora, três anos e sete meses depois de sobreviver a uma das maiores tragédias da história da aviação brasileira, Daniel Bachmann decidiu romper o silêncio. Ele se mudou de São José dos Campos, no interior de São Paulo, onde fica a sede da Embraer, para a pequena Owasso, no estado de Oklahoma, no interior dos Estados Unidos.  Casado e com três filhos, Daniel Bachmann foi recomeçar a vida. No Brasil, não se sentia à vontade para dar entrevistas. Lembrava do acidente a cada instante, teve problemas cardíacos e temia acabar como bode expiatório, principalmente depois que deputados disseram que ele mentia para defender os pilotos. “Por não ser piloto, não conheço detalhes específicos sobre os processos que cada piloto faz. Quando eu cheguei, a aeronave estava ligada, pronta para partir e eu estava entrando com os clientes”, conta.

Apesar disso, o ex-funcionário da Embraer destaca os problemas na comunicação da cabine do Legacy com a torre do Aeroporto de Brasília. Perguntado se os pilotos perderam alguma oportunidade de evitar o acidente, Daniel Bachmann respondeu: “Talvez, ao longo da comunicação que eles tiveram, quando receberam de Brasília a ordem ‘manter”, eles tenham interpretado manter como uma ordem que tinham recebido em São José de ir até Manaus a 37 mil”.

“Manter”, segundo a interpretação dos pilotos, era manter a altitude de 37 mil pés no trecho entre Brasília e Manaus. Mas “manter”, segundo o controlador, era manter o plano de voo original e mudar de altitude, o que tiraria o Legacy do caminho do Boeing. “E daí se nós batemos em alguém? Quero dizer, nós estávamos na altitude apropriada”, disse um dos pilotos.

O copiloto respondeu: “Bem, eles estavam tentando nos dar a frequência e eu estava tentando responder. Eu só peguei três números. Eles provavelmente estavam tentando nos induzir a descer. Mas nós provavelmente não estávamos no radar”. Os pilotos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino foram acusados por uma série de imperícias e negligências durante o procedimento de voo. Na Justiça brasileira, chegaram a ser absolvidos em primeira instância e recebidos como heróis nos Estados Unidos.

Mas a Associação dos Parentes e Amigos das vítimas conseguiu reverter a decisão no tribunal e ainda pediu uma nova pericia das caixas-pretas dos aviões. E o resultado levou à abertura de um novo processo contra os pilotos. Segundo o perito Roberto Peterka, a caixa-preta do Legacy revelou que eles nunca chegaram a acionar um equipamento fundamental para voar, conhecido como T-CAS. “O T-CAS é um sistema anticolisão, é a visão do piloto. Em altas velocidades, a visão do piloto não consegue ver outro avião se aproximado. O TCAS faz isso em 360º De qualquer posição em que venha um avião que possa significar um risco de colisão, o TCAS alerta ao piloto ou a tripulação de que tem um avião se aproximando nessas condições”, explica o especialista. Dentro da cabine, um dos pilotos chegou a perguntar. “É, o TCAS está desligado”, confirmou o copiloto. “E a caixa -preta do Legacy registra desde a movimentação da aeronave em solo até momentos após a colisão ‘TCAS off”, minuto a minuto”, acrescenta o advogados familiares das vítimas, Dante D”Aquino.

Em abril deste ano, as informações da nova perícia foram encaminhadas para agência que controla a aviação civil nos Estados Unidos com o pedido de que Lepore e Paladino tivessem seus brevês cassados. “A resposta do órgão foi que não tomaria nenhuma providência em relação aos dois pilotos”, diz Dante D”Aquino.

Não faz muito tempo. No fim do ano passado, dois pilotos americanos tiveram suas licenças imediatamente suspensas pela mesma agência porque passaram do ponto de pouso e seguiram por outros 230 quilômetros por completa distração.

 

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