A peça de teatro “Pá… Nela”, apresentada pelo grupo Faces Jovem, de Primavera do Leste, impressionou uma plateia de 450 alunos no lançamento da segunda etapa do projeto Trânsito Consciente – Operação Lei Seca Mato Grosso, ontem. Ao mesmo tempo em que levava o público ao riso, a peça propunha uma reflexão sobre o custo psicológico e social de dirigir alcoolizado, além da responsabilidade de preservação da vida no trânsito.
Na ocasião, os adolescentes também presenciaram o testemunho da cuiabana Flávia Ferreira Haddad e da carioca Daniele Fernandes, que sofreram consequências graves, mas sobreviveram a acidentes de trânsito. As duas relataram as dificuldades, os sonhos e as pessoas que deixaram para trás depois que ficaram paraplégicas em decorrência de acidente. Elas decidiram usar o sofrimento para alertar jovens e adultos sobre o uso do álcool e direção de veículo automotor.
Flávia é estudante de psicologia e sempre dá seu testemunho em palestras, pois se considera um milagre. Flávia sofreu um acidente em 2009 e teve sete costelas quebradas, problemas sérios nos pulmões, oito pinos nas costas e duas placas, além de uma lesão medular completa que resultou na paraplegia.
“Este é o motivo de estar aqui hoje, dando meu testemunho, pois não quero ver nenhum de vocês, jovens, que sonham com um futuro brilhante, vivenciarem essas consequências. Nosso maior defeito é acreditar que somos super-heróis, mas não somos. Não paguem para ver o resultado de duas coisas que realmente não combinam: álcool e direção”.
Em um acidente ocorrido há 12 anos Daniele sofreu traumatismo craniano, teve esfacelada duas vértebras da coluna, hemorragia interna, fratura exposta de clavícula e fratura no punho. Passou por 22 cirurgias em quatro anos e meio de internações. Hoje ela é atleta de remo e trabalha como educadora na Operação Lei Seca no Estado do Rio de Janeiro. “Achamos que nunca vai acontecer com a gente. Se eu pudesse voltar 12 anos atrás, não teria, jamais, permitido que aquilo ocorresse. Eu sou exemplo, e se for para alertar as pessoas que álcool e direção não combinam, eu quero ser este exemplo”.
A aluna do terceiro ano do colégio Liceu Cuiabano, Milena Souza Fortes, achou importante os dados estatísticos apresentados na palestra. “Os dados deixam claro que as situações apresentadas são fatos e não conjecturas. A peça trouxe algo para nossa vivência, pois mexe com nossas emoções e nos fez pensar que acidentes podem acontecer conosco, com pessoas próximas e não apenas com pessoas distantes”.
Segundo o presidente do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MT), Rogers Jarbas, o objetivo desta nova etapa da operação é usar a educação como ferramenta para que o cidadão que decidir beber não dirija. “Nós temos que mudar a cultura de violência no trânsito. O respeito deve ser reconstruído a partir de uma consciência coletiva de que álcool e direção não se misturam. E as blitze educativas, os trabalhos nas escolas públicas e outras ações com jovens são de extrema importância para que este objetivo seja atingido, pois eles são ótimos multiplicadores de conhecimento e excelentes transformadores de realidade”.