O projeto “Morcegos do Mato Grosso”, idealizado pelo professor doutor da Universidade Federal de Mato Grosso, câmpus de Sinop, Rafael Arruda, tem como objetivo mapear as espécies de morcegos existentes no município e em maior escala, no Estado. Além disso, o projeto irá analisar a circulação de vírus, bactérias e fungos entre esses animais. A pesquisa de campo foi iniciada, há alguns meses e consiste em realizar a coleta desses animais, para saber a qual espécie pertencem, e onde eles ocorrem, sejam em áreas urbanas ou naturais.
“O que a gente percebe, é que se formos à lugares que ninguém ainda fez amostragens de morcegos, muita coisa interessante poderá aparecer. A perspectiva que nós temos é fazer um inventário em vários pontos do estado, mas em Sinop vamos concentrar a amostragem na área urbana”, explicou Arruda, ao Só Notícias.
Um dos questionamentos que devem ser respondidos à longo prazo, com a pesquisa, é se os animais que vivem nas áreas urbanas podem ter algum tipo de vírus, bactérias ou fungos que possam ser prejudiciais aos humanos, quando comparados com os morcegos silvestres. “Os morcegos têm um comportamento social muito ativo, quando estão na colônia eles se encostam, se lambem, fazem a reprodução como qualquer outro mamífero. Então, nessa troca de fluídos corpóreos eles acabam trocando vírus, bactérias e fungos, nós fazemos isso o tempo todo também nas nossas relações sociais”, apontou.
Os estudos sobre circulação de possíveis patógenos oriundos de morcegos no Brasil são recentes, mas na Europa, já acontecem há muito tempo. “Ninguém aqui se propunha a fazer isso, mas agora com a pandemia do Coronavírus (SARS-CoV-2), e do aumento no conhecimento de vírus, fungos e bactérias associadas aos morcegos, o mapeamento de patógenos vem chamando a atenção de grupos de pesquisa, e hoje temos muitas pessoas estudando isso simultaneamente em vários lugares do Brasil”, disse Rafael Arruda.
As pesquisas são desenvolvidas no Laboratório de Quiropterologia Neotropical da UFMT, em parceria com diversos outros laboratórios do Hospital Veterinário. Os membros da equipe são graduandos do curso de Medicina Veterinária e também com acadêmicos de Zootecnia e Engenharia Ambiental se fazem presentes. Além dos alunos de Sinop, também fazem parte 2 mestrandos de Cuiabá, que são responsáveis pela “modelagem espacial”, um conjunto estatístico onde é feita a previsão de ocorrência desses animais em todo o Estado.
No próximo mês, é aguardada uma doutoranda vinda do Rio Grande do Sul, que trabalhará com o monitoramento bioacústico de morcegos. No Pantanal o trabalho será realizado no SESC Pantanal, e no Cerrado será no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. “Nós temos aparelhos do tamanho de um celular que colocamos no campo e eles registram o ultrassom que os morcegos produzem. A gente não escuta, mas o aparelho detecta porque o ultrassom está em uma frequência muito maior do que a gente pode ouvir. Pelo ultrassom nós conseguimos identificar a espécie de morcego”, detalhou.
Professor Rafael ainda destacou a importância da população em áreas urbanas evitar contato com morcegos que por acidente entrarem em suas casas. “Caso as pessoas, na cidade, percebam que o morcego caiu na casa delas, é muito arriscado pegar esse morcego com as mãos. Logo mais vamos ter um número (telefone) especial para entrarem em contato conosco para irmos até o local e fazer a captura deste morcego”.
De modo geral, é esperado que locais como o Parque Florestal e o Parque Jardim Botânico sejam lugares de maior concentração de espécies de morcegos, por serem extensas áreas verdes urbanas. “Mas não é necessário temer os morcegos, pois existe muito folclore associado a eles”, finaliza o professor doutor Rafael Arruda. Os morcegos são extremamente importantes para o meio ambiente, pois são responsáveis pela polinização e dispersão de sementes de várias espécies vegetais, além de serem controladores de pragas agrícolas.