A paralisação dos caminhoneiros, que começou ontem em mais de 10 Estados (hoje ocorre em 8) cobrando a saída da presidente Dilma Rousseff,redução no preço do diesel, aumento no frete, ainda não é consistente o bastante para causar desabastecimento de combustíveis em Mato Grosso. A avaliação é do diretor do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Estado de Mato Grosso (Sindipetróleo), Nelson Soares. “Está muito incipiente este movimento. Esta é a leitura que fazemos. As bases estão estocadas e ninguém reclamou nada até agora. Temos que aguardar mais uns dias para ver, de fato, o que acontecerá”, afirmou.
O fato de Mato Grosso não ter aderido aos bloqueios de rodovias também conta para reduzir a possibilidade de faltar combustíveis, na visão do diretor do sindicato. “Nosso abastecimento é feito predominantemente por ferrovia, pelo menos até Rondonópolis. Então, se houvesse bloqueio aqui em Mato Grosso poderíamos ter problemas, o que não é o caso até agora. Além disso, se o movimento crescer e paralisar rodovias que dão acesso a Mato Grosso, pode até ser que haja interrupção. De qualquer forma, não vejo, no momento, qualquer informação neste sentido que leve a ter uma preocupação efetiva”.
Conforme Só Notícias já informou, 11 Estados já registraram protestos e bloqueios de rodovias, criticando o governo de Dilma Rousseff e pedindo seu afastamento, além de aumento no preço do frete e redução no óleo diesel. As manifestações ocorrem em São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, no Tocantins, Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Pernambuco. O número de adesões, no entanto, ainda pode aumentar.
Em Mato Grosso, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou, esta tarde, ao Só Notícias, que "nenhuma rodovia federal está tendo bloqueio de caminhoneiros", diferente do informado pela comissão de manifestantes que inseriu Mato Grosso na lista dos Estados onde há manifestos. O bloqueio na 163, entre Itaúba e Santa Helena, no Nortão, é feito, desde a semana passada, por um grupo de sem terra.
Entidades da categoria divulgaram notas em que criticam o protesto. Por meio de nota, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) classificou como imoral “qualquer mobilização que se utiliza da boa fé dos caminhoneiros autônomos para promover o caos no país e pressionar o governo em prol de interesses políticos ou particulares, que nada têm a ver com os problemas da categoria”.
A entidade disse não poder admitir que “pessoas estranhas, sem histórico algum de representação da categoria, utilizem-se do respeito que o caminhoneiro conquistou junto à opinião pública pela força e importância que exercem na economia do país”, e que paralisações, greves e protestos são legítimos desde que organizados por entidades sindicais com prerrogativa legal, e deflagradas por meio de deliberação em assembleia geral.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), entidade filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), disse que os caminhoneiros estão sendo usados em prol de interesses políticos, e que o grupo não representa e não tem compromisso com a categoria. “Os caminhoneiros não precisam de mobilização para derrubar governo. Os caminhoneiros precisam de mobilização para regulamentar frete e preço de frete, para melhorar as condições de trabalho como pontos de parada com estrutura adequada, confortável e segura para atender suas necessidades. Quem realmente representa os interesses da categoria está trabalhando e lutando para concretizar as reivindicações dos caminhoneiros”, disse a entidade por meio de nota.
Um vídeo publicado na página do Facebook do Comando Nacional do Transporte, grupo que convocou os protestos, mostra uma fila de caminhões fazendo buzinaço. Nos para-brisas dos veículos, estão escritas mensagens que pedem a saída da presidenta Dilma Rousseff. “Seu governo não tem mais legitimidade. O seu partido provocou a destruição do Brasil”, diz a mensagem do comando na mesma rede social. Não foram identificadas nas postagens as reivindicações especificamente para a categoria.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, disse hoje (9) que os caminhoneiros em greve não apresentaram uma pauta de reivindicações e que a paralisação tem como objetivo o desgaste político do governo. Segundo ele, o governo da presidenta Dilma Rousseff respeita as manifestações e está aberto ao diálogo, mas não recebeu uma pauta para negociação. “No nosso entender, essa é uma greve que atinge pontualmente algumas regiões do país e, infelizmente, um movimento que tem se caracterizado com uma aspiração única de desgaste político do governo. Se tivermos uma pauta de reivindicação, como tivemos em outros momentos, o governo sempre estará aberto ao diálogo. Agora, uma greve que se caracteriza com o único objetivo de gerar desgaste ao governo, ela vai de encontro aos interesses da sociedade brasileira”, disse Edinho Silva em entrevista no Palácio do Planalto.
(Atualizada às 11:04hs)