O uso abusivo de bebidas alcoólicas está associado a 39.197 ocorrências policiais registradas nos últimos cinco anos, entre 2012 e 2016, em Mato Grosso. Dados oficiais da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) apontam que 161 assassinatos foram cometidos por pessoas bêbadas de 2012 a 2015. Outros 4.903 infratores foram presos dirigindo e 394 flagrados ao volante sem portar a CNH. O excesso de cerveja, whisky, aguardente e outras bebidas alcoólicas levaram 32 pessoas à morte por afogamento e 42 ao suicídio. O álcool aparece ainda em 57 ocorrências de estupro, 60 de ato obsceno, 5.760 casos de ameaças, 4.715 de lesão corporal, além de situações de perturbação do sono alheio, danos, desacato, injúria, furto, roubo, atrito verbal, depredação e desobediência. As estatísticas confirmam que 80% dos crimes cometidos no Estado são regados a bebida alcoólica.
Não é difícil lembrar alguns destes casos de repercussão. No dia 21 de junho do ano passado a frentista de posto de combustível Janaína Rodrigues morreu atropelada, aos 26 anos. Era um domingo, por volta das 6h, e ela seguia para o trabalho, quando cruzou, na avenida General Mello, com um Prisma, em alta velocidade. O carro invadiu a contramão, conduzido por um motorista embriagado. Alysson Delazari, 26, foi indiciado por homicídio doloso. Ele responde ao processo em liberdade. Janaína deixou o filho, que na época do acidente tinha três anos.
O ex-vereador Elias Maciel, de Sorriso (420 km ao Norte), foi assassinado em dezembro de 2012, pelo namorado Walas Negrete Santos, 26. Ao ser preso, em setembro deste ano, contou que os dois tiveram uma discussão e ele, que estava muito “travado”, perdeu a cabeça e desferiu 15 facadas contra Elias.
Os dados alarmantes levaram o investigador Ademar Torres de Almeida a elaborar uma minuta de uma política estadual de combate ao uso abusivo de álcool na adolescência. Ele já trabalha com isso através do programa “De Bem com a Vida”, da Polícia Civil, criado em 2010, com a intenção de controlar o consumo e a venda irregular de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos. Para ele, vivemos uma situação de “epidemia” e é preciso trabalhar o quanto antes a prevenção. “A Polícia Civil atua no campo da repressão, mas descobriu que precisa trabalhar de forma preventiva, sensibilizando os jovens sobre os malefícios do uso e abuso de bebidas alcoólicas, porque, sem dúvida nenhuma tem potencializado uma série de crime, causando grande problema social”.
Ele ressalta que esta minuta tende a se transformar em um projeto de lei encampado pelo deputado Wancley Carvalho (PV), que chamou uma audiência pública sobre o tema na última semana. O parlamentar critica a cultura do álcool, disseminada pela mídia, por meio de propagandas atrativas, com mulheres bonitas, festas e diversão, mascarando os impactos da embriaguez. Diz que é hora de fazer um debate público, expondo os dados criminais.