Número de ameaças de morte no campo em Mato Grosso cresceu 110% em 2012, conforme relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Enquanto em 2011 foram registradas ameaças contra dez pessoas, no ano passado o número subiu para 21, tornando o Estado o quarto mais violento no campo no Brasil. Na lista de ameaçados está o religioso Dom Pedro Casaldáliga e o cacique da Aldeia Marãiwatsédé em Alto Boa Vista, Damião Paradizine.
Os conflitos envolvem sem terras, trabalhadores rurais, indígenas e lideranças. A disputa por terras indígenas e da União foram os principais motivadores para os registros de ameaças. Os conflitos ainda são potencializados pela garantia de direitos e posição contrária de moradores locais à construção de hidrelétricas e o avanço das fronteiras agrícolas.
Outros 15 ameaçados são da Terra Indígena (TI) Menku na aldeia Japuía/Myky e apresentam a vulnerabilidade dos povos indígenas em Mato Grosso, segundos os representantes da CPT-MT. O coordenador Cristiano Apolucena Cabral diz proporcionalmente os números levam o Estado ao topo do ranking. Enquanto existem cerca de 552 mil pessoas em área rural em Mato Grosso, a população de outros estados é maior.
Os estados da Bahia e Pernambuco, que possuem entre 4 a 6 vezes o número de habitantes residentes no campo em relação a Mato Grosso, não registram tantos casos. Estão à frente no ranking de ameaças de morte os estados do Pará (61), Amazonas (57) e Maranhão (49).
Em relação ao número de conflitos foram registrados 44 em 2012 no Estado. Nove casos estiveram concentrados na área do Marzagão em Rosário Oeste, onde sem terra disputam a área com fazendeiros. Enquanto os acampados afirmam que a propriedade é da União, os fazendeiros reivindicam o direito de posse.
A CPT-MT registra um assassinato originado de conflito rural. Durante uma manifestação pública em Alta Floresta, o indígena da etnia Munduruku da aldeia Teles Pires Adenilson Kirixi foi executado. A vítima participava de movimento contrário à fixação de uma hidrelétrica na região.
Uma segunda morte foi noticiada após a conclusão do relatório, mas por falta de informações concretas dos agentes da CPT não consta no documento. O assassinato foi denunciado na Assembleia Legislativa e ocorreu em Colniza, no acampamento Capa Brava.
Para o coordenador da CPT-MT, Paulo Cesar Moreira, as subnotificações mascaram uma realidade que pode ser mais grave. Ele diz que os longos processos de demarcação de TIs, como ocorreu em 2012 em Alto Boa Vista, o avanço da agricultura, pecuária e uso em larga escala de agrotóxico geram os conflitos no campo. "As TIs, em tese, seriam as terras mais protegidas, mas o avanço da fronteira agrícola é extremamente grave, tanto para as pessoas quanto para o ambiente".
A concentração de terra e falta de politicas públicas colaboram para o cenário, afirma Paulo que entregou esta semana o relatório à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). O secretário da pasta se comprometeu a encaminhar o documento para medidas efetivas. "Deveria ter mais opção governamental para a agricultura familiar. Nos assentamentos as políticas não chegam e há um êxodo considerável em todos eles", conclui.