O colunista e carnavalesco José Jacinto Siqueira de Arruda, mais conhecido como Jejé de Oya, falecido no último dia 11 deste mês, deverá se tornar o patrono do colunismo social. Além da homenagem, deputados estaduais também assinam moções de pesar aos familiares de Jejé, considerado um dos maiores ícones da cultura mato-grossense.
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Guilherme Maluf (PSDB), é autor de um projeto de lei que declara "Jejé de Oya Patrono do Colunismo Social Mato-grossense". O trabalho como colunista começou na década de 60, quando foi pioneiro na área – enfrentando todo tipo de preconceito imposto pela sociedade.
O colunismo surgiu quando começou a frequentar festas e conhecer pessoas. Jejé gostava de participar dos grandes bailes, como do Operário e Clube Feminino, e neste último chegou a sofrer discriminação por ser negro. Não deixavam ele entrar na pista de dança. Só podia permanecer sentado e por isso decidiu escrever sobre tudo o que via e ouvia.
Nasceu então Dino Danuza, um pseudônimo que usou para proteger-se, mas que não adiantou muito, pois logo descobriram sua identidade. Sem medo, Jejé de Oya encarou o desafio e se transformou em um arquivo vivo sobre tudo o que acontecia em Cuiabá, com uma escrita ferina e língua afiada.
Jejé esteve à frente de seu tempo, tanto pela sua capacidade de superação, pela sua irreverência, inteligência, criatividade quanto pela capacidade incrível de ajudar ao próximo, promovendo eventos beneficentes.
Mesmo tendo sofrido preconceito tanto por ter se assumido homossexual, quanto por ser negro, ele não se deixou intimidar. Conseguiu espaço na chamada “alta sociedade” e realizava ações para ajudar aqueles que precisavam de tratamento ou até para entidades filantrópicas. E ao final de sua vida, viu a situação inverter.
Desde 2013, Jejé sofria com as limitações da idade, com a saúde debilidade acabou internado na Clínica Geriátrica Casanova. Ele estava cego e não se levantava da cama; ao final, amigos promoveram campanhas para a compra de fraldas e remédios. Entertanto, em dezembro de 2015, sofreu um infarto e ficou internado por cinco dias. Ao retornar para a clínica continuou com o atendimento médico, mas no dia 11 de janeiro teve uma nova parada cardiorrespiratória e não suportou.
Os deputados Wilson Santos (PSDB), Janaina Riva (PSD) e Maluf também apresentaram moções de pesar aos familiares pela perda irreparável de Jejé. A idade dele ainda causa divergência, mas conforme relato de algumas amigos, consta no documento de identidade a data de nascimento: 3 de julho de 1934, portanto, faleceu com 81 anos.
O colunista nasceu em Rosário Oeste, filho de uma mãe deficiente mental. Veio para Cuiabá com quatro anos, adotado por uma família que morava no bairro Boa Morte. Ele estudou em uma escola particular e optou por fazer sapataria na Escola Técnica Federal, antiga Escola Industrial de Cuiabá. Sem se adaptar a sujeira e cheiro forte da cola, mudou de ramo e foi para alfaiataria.
Na época, sem aceitar desaforo, delatou a postura incorreta de um professor à esposa dele e acabou terminando o curso de alfaiataria na Escola Profissional Salesiana, hoje Colégio São Gonçalo. Fez todo o tipo de vestimenta, inclusive para Dom Aquino Côrrea e Dom Orlando Chaves.
Graças à desenvoltura para criar vestimentas, se transformou em uma das principais figuras do carnaval cuiabano, tanto nos desfiles de rua quanto nos clubes onde desfilava com luxuosas fantasias confeccionadas por ele mesmo.
Jejé ainda teve um sonho que não foi concretizado: ser padre. Este era seu desejo desde criança, mas acabou perdendo a oportunidade quando fez o internato de cinco anos na Escola Salesiana. No último ano do curso, cometeu um sacrilégio: colocou as vestimentas do padre e começou a rezar a missa em latim. Quase foi expulso do colégio.
Jejé também era funcionário aposentado da Receita Federal, onde trabalhou por 24 anos.