O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Universidade Federal de Mato Grosso, por meio do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, desenvolvem um projeto piloto de tecnologias sociais que possibilita o consumo de água da chuva, além de promover o saneamento rural e a educação ambiental. Os pesquisadores implantaram, no assentamento Coqueiral Quebó, próximo à Vila Bom Jardim, localizado na zona rural de Nobres, cinco cisternas para armazenamento de água da chuva durante as cheias, para atender essa comunidade no período da estiagem.
De acordo com um dos coordenadores do projeto, o engenheiro agrônomo Samir Curi, essa iniciativa reduz o escoamento superficial, minimiza as enchentes e reduz o consumo da água armazenada no subsolo. Uma das atribuições dos pesquisadores da UFMT, coordenados pela professora Margarida Marchetto, é, no período de estiagem, monitorar a qualidade da água armazenada na estação de chuva.
Segundo os responsáveis pelo Programa, constatou-se que, apesar da abundância de água na região, há sérios problemas com a potabilidade da água, por falta de gestão pública adequada. As cerca de 1600 famílias, dos oito assentamentos existentes na região, sofrem com a falta de água potável durante seis meses de seca. Devido à existência abundante de rochas calcárias na cidade, a água é salobra, não adequada ao consumo humano. “As tentativas tradicionais com poços artesianos não resolveram, por conta das dificuldades de manutenção das bombas e o alto custo de energia elétrica”, esclarece Curi. Muitas famílias do assentamento consomem água de chuva e outras são abastecidas por caminhões pipa que levam água da região do Bom Jardim.
“A ideia é desenvolver tecnologias sociais, sustentáveis e de baixo custo para que os moradores dessa região tenham acesso à água de chuva, mas com as devidas orientações para o tratamento dessa água, garantindo, dessa forma, qualidade de vida e saúde às famílias”, destaca Marchetto. Samir explica que as águas são captadas das calhas e armazenadas em cisternas de vinil com capacidade para armazenar 8 mil litros.
Na saída das calhas são instalados filtros por onde passa a água antes de seguir para as cisternas, que possuem pastilhas de cloro. Além disso, foram adquiridos filtros de barro para serem usados pelas famílias beneficiadas pelo projeto, as quais recebem visitas regulares dos agentes municipais de saúde. “Todos esses cuidados tem garantido a qualidade da água, tornando-a adequada para o consumo humano, tanto para beber quanto para cozinhar, conforme atestam as análises da água realizadas pelos pesquisadores da UFMT. Queremos aprimorar essa ideia e levar a solução para outras famílias que sofrem com os mesmos problemas no Estado de Mato Grosso”, completou Samir.
Outros projetos pilotos vêm sendo desenvolvidos pela equipe de pesquisadores em outros municípios do Estado. Na região de Cáceres, 360 famílias de produtores rurais e aproximadamente 500 alunos estão sendo assistidos por essas tecnologias sociais sustentáveis. No município de Santo Antônio de Leverger foram instaladas cisternas que estão atendendo moradores e alunos da zona rural. Samir conta que a Escola Estadual do Assentamento Nova Esperança, em Cáceres, estava fechada por falta d’água. Foram perfurados quatro poços artesianos sem resultado. Segundo ele, foi implantada, por meio do projeto, uma cisterna com capacidade para 125 mil litros e as aulas normalizaram. E no assentamento Kátira, localizado na fronteira com a Bolívia, Samir conta que, “as mulheres percorriam grandes distâncias para lavar roupa e hoje captam água da chuva para realizarem a tarefa”. Ele calcula que se uma pessoa consome em média 10 litros de água por dia, em 180 dias terá consumido 1.800 litros, assim, “Além de garantir água para a família no período da seca, cria-se o hábito de utilizar água das chuvas, que pode ser armazenada e usada na seca”, destaca Samir.