Prédio público tradicional de Cuiabá é abandonado pelo Estado e hoje serve como abrigo de moradores de rua e criminosos que aterrorizam comerciantes e transeuntes na área central. O casarão localizado na rua Coronel Peixoto, entre a Santa Casa de Misericórdia e a Praça Bispo Dom José, já foi sede do Tribunal Regional Eleitoral e, por último, da Delegacia da Mulher. Hoje pouco resta da estrutura, que tinha como ponto forte a escadaria de mármore, em forma de caracol. Depredado por dois incêndios, resta muito lixo e sujeira. O cheiro fétido das fezes pode ser sentido até por quem passa pela rua
A reportagem de A Gazeta esteve no local esta semana e presenciou inclusive um transeunte entrar no prédio para urinar, sem qualquer constrangimento. Comerciantes vizinhos ao casarão dizem que o local reúne entre 20 e 30 moradores de rua, praticamente todo grupo que atua entre a Ilha da Banana, Morro da Luz e praças centrais, como Ipiranga e Maria Taquara. Até pouco tempo atrás desfrutavam de certo conforto, com acesso a água tratada e energia. Mas os serviços foram cortados e agora o grupo improvisa.
Um dos motivos dos dois incêndios que afetaram o local. Desde a entrada se vê muito lixo, inclusive várias bolsas femininas, indicando que ladrões levam para o prédio o material roubado nas ruas próximas e sem constrangimento deixam espalhadas as provas dos crimes, pelos salões e corredores. Criadouros de mosquitos com depósitos abertos de água e fezes de pombos trazem riscos de doenças. A estrutura hoje se resume as paredes. Toda fiação elétrica foi arrancada, vidros quebrados e até o elevador foi destruído.
Entre os moradores que assumiram o prédio, os flagrantes de uso de drogas, brigas e agressões são parte da rotina diária. Enquanto o poder público ignora o problema, comerciantes sofrem. O farmacêutico José Furlan, 57, que há 22 anos mantinha o comércio na rua fechou as portas. Isto porque ao chegar para o trabalho na manhã de segunda-feira (4), se deparou com a farmácia totalmente vazia.
Todo estoque de medicamentos, perfumaria, computadores e demais equipamentos foram furtados. Ladrões entraram pelo telhado, pelo acesso ao Morro da Luz. Levaram tudo, deixando apenas as prateleiras vazias. Foram 19 invasões que sofreu e agora não sabe mais o que fazer. Universitárias que fazem estágio nos hospitais da região dizem que os roubos de celulares são constantes na via. Familiares de pacientes e trabalhadores são os principais alvos.