O delegado Flávio Leite, superintendente da Policia Federal de Goiás (PF-GO), disse hoje que vai indiciar 28 pessoas pelo desvio de R$ 1,23 milhão do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Estado. Elas vão responder pelos crimes de peculato e emprego irregular de verbas públicas. A investigação teve início em fevereiro, após a descoberta de que a servidora do Ibama-GO Marina de Fátima Piau Ferreira, que atuava no setor financeiro, gastou R$ 23,3 mil do órgão em uma clínica de estética e massagens em Goiânia.
Entre os indiciados estão o marido, o filho, duas sobrinhas e o genro de Marina Piau, além de “laranjas” – como o porteiro do prédio da servidora, uma empregada da clínica de estética – e a dona da clínica, Ângela Maria da Silva.
O delegado disse que os desvios começaram em 1998. Algumas das despesas estão registradas no Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União (CGU), o mesmo que mostra o gasto com cartões corporativos. Foi a partir da denúncia dos gastos na clínica de beleza, publicada pela imprensa no dia 15 de fevereiro, que toda a fraude foi descoberta.
A PF concluiu o inquérito hoje, mas o delegado pediu um prazo de mais 30 dias ao Ministério Público Federal (MPF) para fundamentar o pedido de indiciamento de todos os citados no relatório. Flávio Leite disse que um mês foi muito pouco para isso. A investigação foi baseada, boa parte, na auditoria interna feita pelo Ibama-GO, concluída há poucos dias. Não houve indícios de envolvimento de outros funcionários do Ibama.
Segundo as investigações, Mariana depositava entre R$ 2 mil e R$ 6 mil nas contas de parentes e conhecidos usando o CPF e a conta bancária destas pessoas, como se fossem de empresas prestadoras de serviços do Ibama. Os gastos eram relacionados a projetos aprovados pelo órgão. Ela colocava o nome da empresa prestadora de serviço, mas o CPF era de uma pessoa física. “Os saques feitos pela servidora eram rotineiros e em valores baixos para não chamar a atenção.”
Além dos 11 nomes inicialmente apontados nas páginas do site Transparência Brasil, a auditoria levantou outros 17 beneficiários do esquema. Dos R$ 1.237.654,47 que teriam sido desviados pela funcionária, apenas R$ 8 mil foram parar em sua conta bancária. O restante foi tudo para conta de terceiros.
Os indiciados alegam que não sabiam da origem do dinheiro. Os parentes de Mariana afirmam que, como ela tinha um bom salário (em torno de R$ 12 mil), não havia motivo para desconfiar dos repasses. Os “laranjas” dizem que ela explicava que o dinheiro era para a compra de computadores de uma irmã em Tocantins, e que ela precisava da conta deles, pois a dela estava bloqueada. O indiciamento de todos os que receberam o dinheiro nas contas bancárias se deve, segundo o delegado, aos elevados valores.
A advogada de Marina, Nelinês Lagares, disse que a sua cliente encontrou ‘uma brecha’ no sistema financeiro do Ibama de Goiás e fazia pagamentos a pessoas conhecidas, que não participaram da fraude e não sabiam a origem do dinheiro. Lagares também disse que Marina fez todos os pagamentos sozinha e que nenhum parente ou servidor do Ibama tem culpa. Todos os indiciados responderão o processo em liberdade.