Em 2020, incêndios cobriram aproximadamente 20% da área total do Pantanal, causando uma destruição sem precedentes no bioma. Uma pesquisa realizada com pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), cujos resultados foram divulgados recentemente, estimou que 17 milhões de vertebrados morreram por consequência direta deste incêndio. O número, apesar de assustador, subestima o tamanho da tragédia, principalmente por desconsiderar as mortes causadas indiretamente pelo fogo.
A pesquisa foi realizada utilizando uma técnica chamada de amostragem de distância, onde os pesquisadores percorrem uma linha reta a partir de um determinado ponto, enquanto contam (neste caso) a quantidade de corpos encontrados e medem o ângulo destes em relação à linha principal. Com esses dados e auxílio de um software, os cientistas conseguiram estimar a quantidade de animais mortos.
De acordo com o artigo, o número estimado indica um um impacto imediato assustador do fogo nas comunidades de vertebrados, mas ainda não refletem o total da mortalidade. “Os efeitos diretos do fogo correspondem aos danos imediatos gerados pelas chamas, como a morte e a ocorrência de animais feridos”, explicou a pesquisadora Gabriela do Valle Alvarenga Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade (PPGECB), que participou da pesquisa.
“Já os efeitos indiretos são as mortes que ocorrem após o período de incêndio, devido à menor disponibilidade de abrigos, maior exposição aos predadores, menor disponibilidade de água e alimento. Assim, o impacto total do incêndio catastrófico deve ser considerado substancialmente maior do que nossas estimativas sobre a mortalidade direta”, completou Gabriela.
A cientista destaca que o fogo também tem seu papel a desempenhar em ecossistemas como o Pantanal, onde há períodos de seca, entretanto, a ação do homem lá e em outras áreas têm influenciado de maneira a extrapolar os limites do espaço. “No Pantanal a presença do fogo não é uma novidade, mas a intensidade das chamas e a queima de grandes extensões de terra como o ocorrido em 2020 é preocupante”, afirmou.
“As mudanças climáticas provocam uma série de alterações no clima como o aumento da temperatura e menor precipitação, resultando em secas mais severas e prolongadas aumentando o risco de ocorrência de grandes incêndios. Além disso, a modificação no uso da terra ao longo de toda a Bacia do Alto Paraguai como o desmatamento, erosão e construção de barragens, por exemplo, também prejudica a disponibilidade de água no Pantanal. Esse conjunto de modificações contribui para alterar o regime de incêndios, tornando-os mais frequentes e severos”, completou.
Para os autores, considerando os riscos que os incêndios causam à resiliência e sustentabilidade dos ecossistema, é necessário que seja feito um monitoramento contínuo para detecção de risco de incêndio e princípios de incêndio, estabelecimento de brigadas de bombeiros em locais estratégicos com operação contínua, melhora nas capacidades logísticas para permitir acesso efetivo à áreas distantes dentro do pantanal, implementação de centros de resgate e reabilitação de animais atingidos por incêndios, entre outras iniciativas.
O artigo também é assinado pelas professoras Christine Strussmann e Viviane Maria Guedes Layme, da UFMT, além de diversos outros autores.